57 ANOS DEPOIS

Pois é, cá estou eu, 57 anos depois daquele outubro de 1949 (libriano), às 2:10h de uma madrugada em Santos, mais precisamente na maternidade do Hospital da Beneficência Portuguesa (hoje conhecida graciosamente como... “Benê” – sic). Foi neste horário e neste dia que minha mãe me expulsou da sua segurança interna para as alegrias, as tristezas, os perigos e os contrastes deste mundo.

Vocês sabem o que significam 57 anos? Claro que alguns não sabem, pois ainda não chegaram por aqui. Outros sabem porque já chegaram e ainda há os que já chegaram, mas ainda não sabem. Mas isso é outra história que ainda vou contar em algum futuro momento de inspiração .

Voltemos aos 57 anos, pois eu tenho plena consciência que já cheguei neles.

De uma maneira geral, Ele nos coloca no mundo para sermos felizes, termos bons modos, educação e, quase sempre, com boa saúde. E é aí que entra a grande questão. Nascemos geralmente com uma saúde boa, tudo no seu devido lugar, perfeitinhos. Aí, o tempo vai passando, vamos crescendo, nos enchendo de razão, crentes que sabemos de tudo a cada dia que passa e pilheriando nossos “velhos pais caretas” que estão sempre por fora de tudo e nunca sabem de nada.

Tem um monte de coisas que vão nos estragando ao longo do tempo, grande parte delas provocadas unicamente por nós mesmos. Quer ver? Fumo, bebidas alcoólicas, muitas vezes drogas ilícitas (como se alguma droga pudesse ser chamada de lícita), má, falta ou excesso de alimentação, má escovação dos dentes, exposição ao sol nas horas mais impróprias, excesso de trabalho, pouquíssimas horas de sono, falta de cuidado no sexo e outras coisas que cada um pode chamar para si.

Tudo isso acaba levando a algum problema mais sério quando você começa a chegar e a passar dos famosos “40”, que é quando geralmente tudo de ruim cisma em acontecer. Tanto é assim, que o imortal escritor baiano João Ubaldo Ribeiro chegou a comentar em uma de suas crônicas algo mais ou menos assim: “Quando cheguei aos 40 é que me dei conta que tinha fígado, estômago, coração, dentes, e outras coisinhas mais”. Até os 40 a gente geralmente tira de letra. Depois... bem, depois é o que quem já passou, sabe de cor e salteado. Huummm... e ainda tem o problema sexual que começa a dar o ar de sua graça, por vezes nos causando transtornos e alguns micos.

O cigarro fez parte da minha vida por aproximadamente 35 anos. Em 1986 cheguei a parar por quase três anos, mas voltei a fumar numa mesa de bar, naquela de “vou fumar só unzinho, não tem perigo”. Tem perigo sim, tanto que retomei o vício. Depois parei novamente em 27 de janeiro de 2003, com a esperança que tenha sido em definitivo

O álcool também foi um companheiro constante e “fiel”. Na década de 90 e início dos anos 2000 (até 2002 mais precisamente) bebia muito. Quase todos os dias à noite e após o trabalho, ia ao bar da esquina (sempre tem um) e abusava mesmo.

Alimentação inadequada, stress profissional e familiar, sono ruim, tudo isso também acabou contribuindo para chegar aonde cheguei.

57 anos depois eu sou um sujeito com a saúde fora de forma devido aos abusos cometidos (muitos deles conscientemente). Taxas de açúcar um pouco altas, problemas cardíacos e também com os dentes um tanto avariados devido à escovação inadequada esse tempo todo (fio dental... o que era isso?).

E hoje, aos 57 anos, tento me recompor. São 7 remédios por dia, 5 deles duas vezes, de 12 em 12 horas. Não bebo mais e também não fumo desde 2003, ano em que passei pela UTI da Casa de Saúde (em maio), devido um edema pulmonar agudo. Vi a morte na minha frente, me chamando. Mas Ele me segurou e disse: “Sua vez ainda não chegou... você tem muito o que fazer por aqui”. E cá estou, procurando realizar a cada dia, tudo aquilo que sei que devo e posso fazer. O coração está melhor, mas sei que dependo dos remédios, assim como o controle do açúcar depende deles também. E claro, mais importante, da minha força de vontade e do estilo de vida saudável que procurei adotar.

Não sei se poderia dizer que faria algo ou tudo diferente caso me fosse dada uma nova chance. Talvez fizesse, principalmente sabendo de tudo o que sei hoje e pela maturidade adquirida. Mas quem é que pensa nessas coisas quando se é jovem e ainda tem-se uma vida inteira pela frente?
Saúde a todos!

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