Que beleza!

Acordei disposto. Saí da cama cedo e me enfiei no banheiro cantarolando sob o jato quente entre espumosas e aromáticas enzimas assépticas. Devidamente alimentado, girei a chave do Camaro cinza-chumbo e deslizei rosnando com seu V8 pela nova via cuja construção havia acompanhado, porém ainda me surpreendia com a rapidez com que fora concluída. As paisagens se sucediam verdejantes e entrecortadas pelos conjuntos residenciais estrategicamente planejados de forma a dar todas as condições aos seus moradores de acessarem qualquer destino com agilidade e segurança. Cruzei diversos viadutos, pontes complexos viários que integravam todas as modalidades de transporte público, praças, jardins, hospitais, shoppings... Era inacreditável como a cidade havia se transformado em tão pouco tempo! Algo, porém sinalizava no subconsciente. Como se ainda estivesse faltando alguma coisa, no entanto, com um pequeno esforço, voltava a desfrutar do prazer de ver todo aquele milagre, afinal tratava-se de promessas surpreendentemente cumpridas antes dos prazos e com orçamentos absolutamente dentro do previsto. Não, tinha alguma coisa errada. Não poderia ser. Ainda faltavam seis meses para a copa do mundo e já estávamos cuidando de detalhes que somente se havia previsto para mais próximo do evento. Sei que essa insistência em ser pessimista, em achar que em tudo havia corrupção e o oportunismo era um entrave endêmico para a nossa redenção como pais sério só poderia ser coisa de condicionamento, de gente mesquinha que não dá aos nossos políticos e empreiteiras o devido mérito. Só poderia ser complexo terceiro-mundista. Estava com aquele carro! Havia saído da garagem sem nenhum temor de ser assaltado ou assediado por flanelinhas... Tirimm Tirimm Tirimm. Ufa! Que sonho mais louco! E me resignei quando percebi quão cansado havia chegado ontem por causa do engarrafamento.