Na Tortura Toda Carne Se Trai

Eu seria capaz de suportar os mais terríveis dos instrumentos de tortura, sessões de crueldade, ser aferroado e trancafiado na mais profunda e escura das catacumbas. Afinal, contra a opressão e a humilhação o orgulho transforma a dor do corpo em uma pérola na alma e calcifica a mágoa e o ultraje em uma arma de resistência.

Porém, a tentação, o doce sabor do fruto da árvore da Vida, isso é irresistível. Como já foi dito, é possível resistir a tudo, exceto às tentações. E das tentações, dos pecados da carne, nenhum é mais doce do que o beijo. Um veneno mortal, que mesmo assim procuramos e guerreamos por ele para podermos prová-lo, mesmo sabendo do mal que ele pode nos fazer. Nos enganamos que o provaremos em doses homeopáticas como um fino liquor servido só nas ocasiões mais solenes, entretanto nos embriagamos com beijos noites adentro como ébrios de vinho.

Ele, o beijo, é o começo, meio e o fim da dança, a inauguração do prazer, o convite ao banquete, o passaporte ao transe. Na tortura toda carne se trai, só é preciso conhecer as ferramentas corretas para tornar horror, sublime e vencer e conquistar qualquer coração. Para eliminar qualquer defesa, desfazer qualquer armadilha. Por algumas horas, por um segundo, por uma noite, pela eternidade.

José Rodolfo Klimek Depetris Machado
Enviado por José Rodolfo Klimek Depetris Machado em 25/02/2013
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