À PROCURA DE UM OÁSIS PARA O DESCANSO DA GUERREIRA.



       Há cinco anos cheguei ao fim de uma carreira profissional. Necessário se fazia um local para descanso e onde eu pudesse exercitar minha paixão pelas letras. O destino, uma beira de praia. A procura foi enorme. Ninguém me queria com meus filhos peludos e sem eles, nada feito. Kiki e Alminha eram filhos e de idade avançada, jamais desprezá-los. Todos os dias um novo recomeço, uma nova procura. O imóvel não poderia ter mármores ou granitos que só me lembram mausoléus. Tinha que ser grande o bastante para minhas caminhadas nas noites insones e também por me sentir sufocada em ambientes pequenos. Tinha que ser juntinho ao mar para que eu sentisse o cheiro de maresia que tanto gosto. Tinha que ter varanda onde estendesse minha inseparável rede. Bem, e ainda tinha que caber dentro de  minha reserva financeira. A confusão estava armada. Eu queria o impossível.
     Bem, posso dizer que o impossível aconteceu. Encontrei um prédio antigo, simples, amplo, nada de luxo, tinha tudo que eu precisava e de quebra meus peludos eram bem vindos. Tudo resolvido.
     Como se não bastasse, eu seria vizinha das tartarugas. É na praia do Bessa que elas vêem todos os anos em busca de proteção, em busca de realizar o maior mistério:  a continuação da vida. Como explicar essa viagem de milhares de quilômetros mar adentro para aportarem aqui? Como explicar o que as guia? Seria um pedido de socorro, uma certeza de proteção? Presenciei por várias vezes o seu chegar. Elas vêem cansadas, debilitadas e sobem a praia com dificuldade. Escolhem o local e com as nadadeiras vão cavando. A areia cede lugar ao ninho. Terminado o exaustivo trabalho, elas põem os ovos, um a um. A seguir elas cobrem os ovos e voltam ao mar para voltar no próximo ano, confiantes que perpetuarão sua espécie. Na praia um grupo de anjos chega, cataloga tudo, faz um cercadinho em cada ninho para proteção e voltam no dia da eclosão dos ovos. Mantêm uma vigilância quase constante para evitar os predadores. Falar desse milagre é surreal. Onde encontrar palavras? No dia marcado, lá estão os anjos parteiras de tartarugas a desencavam os ninhos com a suavidade de uma pluma. Aos poucos o milagre acontece... Elas vão rompendo a casca e aparecendo, primeiro a cabecinha a olhar o mundo, depois as nadadeiras e logo estão à correr para o mar. Lá vai uma, dezenas, centenas. A onda as acolhe, as vira e revira. Uma vida lutando pela vida. Tão pequena e tão grande! A emoção invade todos. Um respeito enorme. Um silencio respeitoso impera. E ficamos olhando o mar até que a última tartaruguinha desapareça na imensidão do oceano. Missão cumprida para as parteiras de tartarugas. Uma saudade já nos toma, mas temos muitos cercadinhos e logo teremos tudo novamente. Realmente é um orgulho ser vizinha dos cercadinhos, redoma das inocentes criaturinhas que sempre nos levam ás lágrimas.