Salve o Cordão da Bola Preta

O que está na cabeça das pessoas? Quem não gosta de ficar à toa? Com uma mulher boa? Preocupações nem sempre tolas. Mas há também as que julgamos importantes. Uma doença séria ou, pior, incurável. Havendo também emoções que nos deixam contentes. Como receber um dinheiro bom com que não estávamos contando. E aí, por breves momentos, nos acreditamos felizes. Ainda que não estivéssemos precisando daquela grana.

Comum e natural é associarmos o dinheiro à felicidade. E a falta dele com a tristeza. E, ainda na falta do dinheiro, procurarmos compensações com que fiquemos com a impressão de que podemos dele prescindir. Até que tenhamos que comprar um remédio muito caro. Ou que pagar R$ 50 mil por uma hora de CTI. E aí desmoronarmos de novo. Isso desde que o povo é povo.

Talvez isso não acontecesse quando vivíamos em sociedades tribais. Numa vida de fato em comunidades. Ou comunas. Quando o que era de um, era de todos. Quando se praticava, no máximo, o escambo. Talvez uma forma embrionária ou rudimentar de mercado. Mas não com a sofisticação de depois. Ou de hoje.

Mas também não havia remédios ou drogas. Caros ou baratos. Muito menos CTI. Embora houvesse curas. E curandeiros.

Só que hoje a medicina e seus médicos nos asseguram uma expectativa de vida que não teria a menor condição de ser alcançável em sociedades tribais.

O que nos faz admitir que o que entendemos por progresso era inevitável. E é, porque continuamos progredindo. Ainda que nem sempre com ele tenhamos o que almejamos. Ou os momentos felizes que imaginamos que o progresso nos traria. Isso também anda na cabeça da gente. Com um monte de anseios, expectativas, incredulidades, desconfianças, desespero, esperança e algumas emoções... felizes. Mas não necessariamente duradouras.

É possível que nas sociedades tribais, com menos elementos em nossa cabeça, menos anseios, expectativas, incredulidades, etc., é possível que os momentos felizes tivessem maior duração. Ainda que fosse a nossa existência menor. Mas o que fazer da nossa capacidade criativa, do nosso poder natural de empreendedorismo, da nossa inconfundível dotação intelectual, da nossa tentativa tantas vezas bem sucedida de descobrir coisas, da nossa capacidade única, dentre os animais, de articulação? E de achar, nem sempre com tanto sucesso, que conseguimos dominar a Natureza?

Seria praticamente impossível, portanto, que continuássemos vivendo como os que nos antecederam. Em áreas paradisíacas, no campo ou à beira de rios e mares, dotadas de vegetação, animais, peixes e plantas de que pudéssemos nos servir sem maiores preocupações quanto à sua esgotabilidade. Apenas com preocupações quanto à caça dos animais e o desenvolvimento de uma agricultura rudimentar que não envolveria, certamente, maiores esforços para a manutenção da fertilidade do terreno. Viveríamos preocupados com o monte santo, nas com a Monsanto.

O que seria fertilidade para os nossos ancestrais? E desesperança,? Investimento? Terapia ocupacional? Política aduaneira? Taxas alfandegárias? Insumos? O agronegócio?

Política, por exemplo, poderia ficar circunscrita a um chefe, que atenderia a todos e favoreceria, através de uma ampla interação, que todos se atendessem.

Até que vieram as guerras e com elas a competição. A busca por novas terras, talvez mais férteis. E com elas os fertilizantes. Que muitas vezes acabam por exauri-las. Guerras também para satisfazer a ânsia orgulhosa pelo descobrimento. E com elas o desenvolvimento de novas modalidades de deslocamento, por mares, rios e terra, e novas armas. Não para caçar, mas para a eliminação física de opositores. Dando-se assim o domínio de outras planícies, rios e mares. A política assumindo enfim características bem parecidas com as atuais.

E temos o que vemos agora. Talvez seja por isso que chegou quase a 2 milhões o número de participantes no Cordão da Bola Preta nesse Carnaval. Todo mundo querendo esquecer dessas baboseiras todas que não são novidade pra ninguém. E infinitamente sem graça, sob o ponto de vista de se conseguir uma mulher boa. Que no Cordão se consegue. Não necessariamente à toa.

Maricá, 11/02/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 27/02/2013
Reeditado em 28/02/2013
Código do texto: T4162441
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