Que bom que você está aqui...

Ontem, bateu uma vontade de ir ver você.

Tinha já muito tempo que eu não ia.

Mas sabe aquela saudade que fica coçando,

cochichando, brilhando flash, empatando?

Pois é, tava assim. Então, eu fui. Chovia.

Havia muito silêncio na noite, a não ser, claro,

pela chuva.

Quando toquei o interfone, ninguém respondeu.

Olhei para o seu andar, tudo apagado.

Liguei e o seu celular não atendeu.

Dei um tempo. O seu carro estava na garagem,

você tem ido para o trabalho de ônibus... esperei.

Fui até à esquina e encontrei o nosso amigo da sorveteria

descerrando as portas. A chuva parou. Ajudei-o a colocar

as travas, os cadeados. Papeamos um pouco. Então, fiquei

aguardando. Chegaram dois ônibus e nada de você. Pensei:

Ou teve alguma emergência na clínica, reunião, ou quem

sabe está na casa da frente, que é da sua mãe, mas lá

só tinha luz na sala de televisão... resolvi esperar perto da

árvore. Alguns minutos e o portão se abriu e surgiu você e a

Aninha. No meio da rua você me deu um abraço tão gostoso,

e sussurrou no meu ouvido: que bom que você está aqui...

Atravessamos de mãos dadas, a Aninha sonolenta, e você

não questionou o meu sumiço, não deu bronca, apenas sorriu

e eu me perguntei: Por que demorei a vir?