Patrão e seus Vassalos

Senti algo mais que cheiro de cafe azedo no alito do homem . Senti cheiro de enxofre .

'' Se eu mandar você levar aquelas bobinas pro segundo piso , você pega e leva ! ''

Gritava meu patrão . Não preciso deizer que ele era um tremendo filha da puta . A historia é que eu trabalhava nesse deposito nessa tecelagem Um serviço bom , tranquilo e o resto do pessoal não era de todo mal , o unico problema do lugar era o patrão , o velho sacana dono do lugar , que aparecia uma vez por mes no barracão pra botar medo e tocar panico nos vassalos que se mijavam todos quando o viam estacionar seu grande carro importado em sua vaga privativa . Ja fazia pouco mais de um ano que eu estava nesse lugar , e durante todo esse tempo o homem jamais trocara uma palavra comigo , talvez um olhar , talvez um pensamento maldoso ou vontade de cair dentro , trocar socos e ponta pes , violencia , violencia , violencia ...

Eu gostava das coisas como estavam , nenhum sentimento de afetivo entre patrão e colaborador , ou vassalo . Mas teve esse dia , o sacana apareceu com sua caminhonete grande que roncava como um leão e peidava como um elefante . O pessoal estava em fila , como num campo de fuzilamento , aguardando sua hora de bater o cartão e começar a jornada . Era uma manha quente , o ar cheirava a morte , graças a fabrica de gelatina que funcionava a dois quarteirões . A hora de bater o cartão sempre era uma cena triste e solitaraia , cada um na fila pensando na vida desgraçada que tem acordando todos os dias as cinco e meia da manha para trabalhar a tres miseros pesos a hora sendo que um e tantos seria descontado do almoço cheio de fermento oferecido pela diretoria . Se ninguem pensava nisso , eu pensava, mas nada poderia ser feito , afinal , todos tem seus anseios profissionais e tudo mais , mesmo trabalhando como limpador de foça a gente deseja algo que nunca alcançara , mas e isso que da força aos trabalhadores escravos de todo mundo , a fé ; a sabedoria do escravo . Bom , la estava eu na fila com meus pensamentos e tudo quando percebi que a bunda do cara a minha frente contraiu . A principio imaginei que uma bufa estaria a caminho e o desgraçado queria manter o troço dentro dele , mas o cara da frente e o da frente e até a loirinha que trabalhava na cozinha haviam contraido suas nadegas simultaneamente . Foi então que ouvi essa voz .

'' Seu nome é John , certo ? ''

Desviei o olhar dos traseiros e os direcionei para o rosto redondo e palido ao meu lado .

'' Tenho algumas coisas na caminhonete que quero que você pegue e guarde no segundo piso do bloco B ''

Sua voz tinha um q de superioridade .

'' Vamos , garoto .''

Tornou a dizer o homem gordo . Voltei a olhar para frente , para nuca cabeluda do escravo a diante . Notei que todos agora estavam de cabeça baixa e eu era o unico a olhar em linha reta .

'' Garoto , qual o seu problema ? ''

O homem meio que não sabia o que fazer . Ele sem duvida não estava acostumado a ser ignorado daquele jeito . Então perguntou para o cara a minha frente , o da nuca peluda :

'' Hei , qual o problema com ele ? Ele faz parte da cota dos retardados ? ''

O cara da frente responde com voz de puta .

'' Não , senhor ''

Diz ele .

'' E porque não faz o que mando ? ''

Quer saber o gordo .

'' Quem é vocÊ ? ''

Pergunto . Ele parece não ter gostado da pergunta , seu rosto fechou , meio que avermelhou e deu pra sacar que assustava muita gente com aquele rosto . Eu simplesmente tornei a perguntar quem ele era , então ele meio idiota estendeu a mão e seu rosto ja não estava mais fechado e contorcido , mas ainda estava vermelho .

'' Prazer , sou sr . P ''

Diz ele .

'' O sim , eu sou John , mas parece que ja sabe disso ''

Conheço todos meu funcionarios , sou eu quem lhes pago o salario , não ? ''

Sem duvida pagava , e era um salario de merda , mas ainda sim era um salario .

'' Porque não fez o que pedi quando mandei ? ''

'' Mandou o que ? ''

O sacaana voltou a torcer o rosto e sem duvida era um puta rosto feio .

'' Não é retardado , é , rapaz ? ''

Não respondi a pergunta , o pessoal na fila estava meio que soltando penas . Passei o cartão com o homem ainda colado ao meu lado .

'' Olha , rapaz , tenho duas bobinas de plastico na caminhonete , sera que pode ir até la comigo e levalas para o segundo piso do bloco B ? ''

'' Claro que sim ''

E fomos nos . O homem caminhava na frente , apressado , passos curtos e rapidos de gordo . Eu o segui calmamente desejando um cigarro . Quando chegamos na caminhonete ele desceu a tampa do bau e la dentro estavam duas bobinas com aparencia muito solidas com o numero 60 pintado em cada uma delas . Ele olhou para elas e olhou para mim , com um sorrisinho forçado no rosto .

'' E um pouco pesado , rapaz . ''

Me posicionei atras da caminhonete e tentei puxar uma para fora. Não consegui . O homem simplesmente ficou ali olhando sem mover um musculo . Tentei novamente mas foi a mesma coisa .

'' Vamos la , esse troço não vai sair da i sozinho ''

Disse ele , com aquela voz idiota autoritaria .

'' O que significa esse 60 pintado nas peças ? ''

Perguntei .

'' 60 quilos . ''

'' Essa porcaria pesa 60 quilos ? ''

'' Porcaria não . Sabe quanto custa o quilo disso ? ''

Voltei a tentar puxar a peça , so que agora de cima do bau . 60 quilos não era grande coisa , mas eu tambem não estava a fim de me matar de trabalhar logo de manha .

'' Sera que pode dar uma mão aqui ? ''

Perguntei . O velho meio que fez cara de desdem , baixou a cabeça e riu . Senti raiva e odio por ele . Simplesmente desejei sua morte , e provavelmente um pedaço de carne de porco frita o faria , um ataque do coração ou sei la o que com todo aquele peso e circunferencia que tinha . Estava prestes a explodir .

'' Olha , rapaz , eu lhe pago pra isso . Agora tire essas bobinas logo e as guarde onde mandei ''

Aquilo era demais . O cara era um filha da puta desgraçado , então me sentei sobre uma das bobinas e saquei um cigarro .

'' Hey , não pode fumar aqui !''

Disse o gordo , incredulo com aquilo que acontecia na frente dos seus olhos . Acendi o cigarro .

'' Escuta aqui ''

Falei

'' se você não me ajudar com essas porcarias elas não vão sair daqui , pelo menos eu não vou tirar ''

Visivelmente ele desacreditava . Ficou sem saber o que fazer , sua mente travou . Deu tilt .

'' Seu muleque desgraçado , esta fumando no meu carro , onde acha que esta ? Na porra da casa da sua mãe ? ! ''

Continuei fumando o cigarro , o fumei até o filtro , depois apaguei numa das bobinas fazendo um buraco nela . Me levantei e desci da caminhonete parando em frente ao homem , sua barrigona gorda e suada me manteve a uns boms ointenta centimetros de distancia da sua face . Mesmo com toda aquela gordura entre nos dois deu pra ouvir algo que achei ser seu coração inchado martelando no acolchoado que era seu peito . Nos tinhamos praticamente a mesma altura e meus olhos colaram nos dele , sua respiração ofegante azeda ja não tinha mais cheiro de enxofre , mas de bosta de vaca . Ho, sim , ele tinha medo .

'' O que vai fazer a respeito ? ''

Perguntei .

'' Bem , humm , vou chamar alguem para ajudar você , esta bem ? Esse troço realmente e muito pesado ...''

Sua voz agora ja não era mais autoritaria , mas sim tremula . Um covarde , sem duvida , ainda mais covarde por arregar para mim.

'' Não e sobre isso ''

Sai andando para longe do bafo de bosta de vaca .

'' E sobre o que ? ''

'' Esquece ''

'' Não , o que vou fazer a respito do que ? ''

Eu ja estava a alguns metros do gordo .

'' Esquece . E tem outra , me demito . ''

'' O que ? ''

'' Que deus tenha piedade sa sua alma , seu porco ! ''

Ele continou parado , curioso e assustado repetindo : a respeito do que ? , enquando eu abria metros entre nos .

Me demitir talvez tenha sido a melhor coisa que fiz . Quando você cria vinculos afetivos , sejam eles horriveis ou bons com seu patrão , so pode dar merda .

01/03/2013

16h06m