A última festa de Tia Pepa

Na roça, sempre havia motivo para uma festa. Mas, a carta anunciando a chegada de tia Pepa, era o prenúncio de uma grande festança.

Faltando apenas três dias para sua chegada. uma porca já havia sido eleita. Os frangos escolhidos e presos no galinheiro. O grande forno do quintal ganhou um novo barro branco. O fubá de moinho dàgua e a goma azeda reservados.

Comer ovos era proibido, milho verde nem pensar. Ela tinha que comer ao menos uma pamonha. E as quitandas? Tudo aguardando a chegada de Tia Pepa.

Coitado do velho cão Colipe! Tomou um banho de inseticida. Tia Pepa tinha alergia a pulgas.

As cabecinhas das crianças feriram-se de tanto a velha Romualda passar pente fino. Tia Pepa ia dizer que piolho é coisa de desmazelo.

Ah Tia Pepa quanta trabalheira deu a sua vinda. Eu ansiava por sua chegada, e eu nem me lembrava mais de como ela era.

A sanfona foi afinada, já muito tempo estava guardada. Algumas cantigas ensaiadas, principalmente as que ela gostava.

As roupas de cama, aquelas de linho, bordadas, foram retiradas do baú, engomadas e passadas.

Tudo preparado. A labuta do dia seguinte seria enorme. E eu queria participar de tudo. Era um dia importante, Afinal era a chegada de Tia Pepa.

Acordei com uma barulheira no quintal. A porca, após seu último grunhido, já estava sendo sapecada sob uma imensa fogueira de palha.

As fornalhas já estavam em chamas. O forno cheio de quitandas, e os frangos depenados.

A casa estava toda enfeitada. Cheia de flores. As crianças com vestidinhos novos, no cabelo um laço de fita.

Do portão, vimos ao longe a poeira que se aproximava, e com ela, o carro de praça do Nelson Teco-teco. Abraços, bênçãos e perguntas.

Sua grande mala no quarto reservado. E eu imaginava quantos presentes havia, pois quando eu pedia alguma coisa: - espere Tia Pepa chegar. Eu achava que ela era irmão do Papai Noel.

Todos vieram visitá-la. Parecia que era muito querida.

Os dias se passaram. A lingüiça pendurada sobre o fogão chegou ao fim. Da carne sobraram apenas os torresmos. Os frangos do quintal se escasseando. As roupas já não eram mais engomadas. E Tia Pepa sem distribuir os presentes.

Até o médico da cidade passou a visitar nossa casa semanalmente.

Mas e os presentes? Em sua mala havia somente o que lhe restava. Estava doente, e preferiu vir para perto de sua gente.

Mas eu tenho certeza que foi a festa mais linda que fizeram pra Tia Pepa!

Não entendi até hoje porque a gente tem que vir e logo depois ter que partir....!

Nota: Tia Pepa é apenas um nome que surgiu da minha imaginação.

O cão Colipe era nosso cão

A Romualda nossa Babá.

Do Teco- teco era o apelido do meu Tio Nelson ....chofer de praça.

Vó Didi
Enviado por Vó Didi em 08/03/2013
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