O REI ESTÁ NU

O escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen, nascido em 02 de abril de 1802, escreveu centenas de histórias infantis, dentre elas essa abaixo, que eu reconto à minha moda.

Certa vez, um sujeito ordinário, se fazendo passar por um exímio alfaiate, oriundo de terras distantes, chegou a um determinado reino e pediu uma audiência com o rei. Bom de lábia, convenceu o monarca de que poderia fazer-lhe uma roupa muito bonita, mas que apenas as pessoas muito inteligentes poderiam vê-la. Como os donos do poder costumam ser vaidosos, ele gostou da proposta e pediu ao tal sujeito que lhe fizesse um traje desses.

Para “costurar” a roupa, o “alfaiate” exigiu e recebeu vários baús lotados de veludos, sedas, fios de ouro, pedras preciosas e outros materiais caros. Ele guardou todos os tesouros e ficou fingindo que tecia fios invisíveis.

Certo dia, cansados de esperar, o rei e seus ministros quiseram ver as vestes que estavam sendo confeccionadas. Quando o falso tecelão mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: "Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!", embora não visse nada. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido, nenhum deles querendo demonstrar que era estúpido. Por fim, o “alfaiate” disse em que data tudo estaria pronto e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para exibir as suas novas roupas.

O dia triunfal chegou e lá se foi o monarca, desfilando pomposamente, mas peladinho da silva, pelas ruas. De repente alguém gritou: "O rei está nu!". O grito era proveniente de uma criança. Ao ouvir isso, o rei suspeitou de que a afirmação fosse verdadeira, chegou a “tapar as suas vergonhas” com as mãos, mas diante da turba que gritava: “Nossa! Que lindas roupas!, “Uau! Que espetáculo!”, ele ergueu sua cabeça e orgulhosamente continuou a procissão.

Entrou pelo pé do pato, saiu pelo pé do pinto, quem quiser que conte cinco!

É possível deduzir que a criança fora capaz de exclamar o que vira, por dois motivos, além do óbvio que é “saber falar”: a) conhecia as características de “nudez” e de “vestuários”; e b) não fora contaminada pela hipocrisia muito comum entre os adultos.

Muito longe dessa criança, em relação à Operação Derrama, embora eu não saiba quem é o rei, a sensação que eu tenho é que ele está nu. O que me faz sentir isso são: a “velhice” mesmo, o hábito de leitura, e a facilidade para interpretar linguagens verbais e não verbais (proveniente dos muitos anos ensinando meus alunos, não apenas a interpretar para além da superfície dos textos, mas, também, as regras de silogismo para embasar adequadamente as suas argumentações).

Assim como aquela criança, fui buscando as características das coisas, fui juntando “lé com cré.” Aventei a hipótese de que após o CNJ ter exposto as vísceras do poder judicário capixaba, durante a Operação Naufrágio, é imperioso “ficar bem na fita” e atender a todas as determinações ou orientações daquele órgão. Mas confesso que eu não sei se é por aí.

Depois me lembrei do ditado: “A onça está morta? Vamos tirar o seu couro!”. Em outras palavras: “Se quem o ex. Chefe do executivo capixaba apoiou para prefeito não conseguiu ser eleito, então a “onça” está morrendo! Pau nele e em todos a quem ele colocou embaixo das "patas”. ".

Mais algumas coisas me intrigaram: a) as críticas do Procurador Geral do ES ao trabalho do Nuroc; b) o revide do Presidente do Sindelpo (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Espírito Santo) em defesa do trabalho dos delegados; c) o livramento das caras de alguns pseudo envolvidos; d) o jornal que eu assino não ter tido peito para perguntar a quem sabia a resposta correta, por que minha xará fora solta, enquanto 25 outras pessoas ficaram presas; e) esse mesmo jornal escolher determinadas fotos para estampar manchetes, como se estivesse a serviço de alguém.

Todos esses pensamentos me fazem sentir que “O rei está nu”, mas eu não consigo ver seu rosto, não quero ver e se eu vir eu NEGO. Por quê? Porque os covardes agem exatamente como o personagem de uma outra história, O Barba Azul, escrita por Charles Perrault. Nela o personagem principal permitia que suas esposas entrassem em qualquer um dos 99 quartos de seu castelo, mas matava quem ousasse entrar no 100º.

Segundo meu querido escritor Rubem Alves, em seu livro “Cenas da Vida (1997, pp. 59-60): “O castelo de cem quartos é uma metáfora do corpo humano. Noventa e nove quartos são abertos à visitação do público. Ali, com todos visitantes e estranhos, tudo são sorrisos e conversa cordial. Mas o último quarto é o quarto que odiamos: ali mora nossa parte monstruosa, gostaríamos de nunca visitá-lo e de perder a sua chave”.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 08/03/2013
Reeditado em 10/04/2023
Código do texto: T4177913
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