Capitão AZA (Wilson Vasconcelos Vianna – em memória)

Quem leu a crônica O padre vai estar familiarizado com essa que inicio, mas para quem não leu, conto que a história se deu no Colégio Ernesto Nazareth, nos anos sessenta, talvez em 1966 ou 1967, não sei precisar.
Como o título sugere, é uma história sobre o grande herói da meninada da minha idade, que hoje são os cinquentões. Quem não se lembra desse sujeito, que aparecia nos programas vestido à caráter como um aviador, com um capacete lindão, com a letra A em destaque.
Sim, o nosso Capitão AZA era demais! Estava sempre sorrindo e distribuindo bons conselhos, dizem que seguindo a cartilha dos militares, não me importo, as coisas boas não podemos deixar de enaltecer e isso era muito bom. Além é claro dos desenhos que passava, maravilhosos desenhos que me faziam viajar por entre nuvens, numa atmosfera de que tudo se pode fazer, voar, cair de grandes alturas e ficar sem um arranhão, essas coisas de super-heróis.
Minha alegria foi tamanha, quando soubemos que o nosso herói nos visitaria na escola, ninguém acreditou na hora.
Não seria possível, um cara que poderia estar voando para qualquer lugar do planeta não perderia seu tempo vindo a um colégio da Zona Oeste, um bairro de classe pobre, como era o nosso.
Mas como os professores garantiram e pediram para fazermos cartazes gigantes, com desenhos em homenagem à visita ilustre, passamos a acreditar e a sonhar com o radiante dia.
A expectativa durou pouco, faltavam alguns dias apenas, seria numa sexta-feira, todas as turmas foram convocadas, era como um ato cívico! O capital AZA desceria dos céus de Campo Grande e pousaria solenemente no pátio do nosso colégio.
Começamos as discussões sobre o meio de transporte que ele usaria.
As apostas estavam em no mínimo um helicóptero, daqueles de guerra, grandões, cheios de armas apontadas para todos os lados, seria um sonho ver essa máquina de perto.
Os mais sonhadores, como eu por exemplo, apostavam em uma pequena nave espacial, parecida com a que ele usava no programa, afinal não teria graça chegar de helicóptero se ele poderia vir de nave espacial.
Até as mães foram convocadas, o dia amanheceu e o pátio do colégio estava cheio de cartazes e desenhos de todas as turmas e de todas as idades.
Minhas irmãs eram mais velhas, de turmas dos grandões de 9 ou 10 anos, minha turma era de 6 a 7 pelo menos.
Acordei nervoso, queria logo que chegasse a hora.
O horário anunciados era de 11:00 horas da manhã. Bom, assim ficaria perto do recreio, nem haveria aula direito, os alunos estavam com as cabeças lá no céu, de onde desceria em triunfo total o nosso herói da TV TUPI, nosso herói Capitão AZA.
Acontece que as coisas no Brasil quase sempre atrasam e mesmo ele sendo um militar renomado, acostumado em voar pelo planeta inteiro, não conseguiu chegar na hora.
O tempo ia passando e a expectativa aumentando, a cada helicóptero que sobrevoava a escola, bem longe, acontecia o maior frisson, era aquela gritaria:
- Lá vem o Capitão AZA!
E não eram apenas as crianças, as mães também gritavam bastante.
Eu ainda apostava que viria uma nave espacial, já estavam me gozando, os mais pessimistas já achavam que ele não viria, que talvez tivesse que ir para algum lugar acabar com alguma guerra no planeta.
Eu ainda confiava e levava alguns coleguinhas a acreditar em mim.
Depois de alguns minutos após a hora marcada, quando a criançada já estava com o pescoço doendo de tanto olhar para cima e gritar:
- Lá vem o capitão AZA!!!
a cada avião, helicóptero ou mesmo um urubu maior, que sempre era confundido com avião, eis que alguém teve a ideia de olhar para o portão do colégio e para o espanto de todos, para a desilusão de todos, para a tristeza de muitos, eis que uma Kombi bege para na frente do portão.
O povo ficou num silêncio mórbido! Todos se olhavam incrédulos, eu tive vontade de chorar ou de dar uma gargalhada, de tão nervoso:
O Capitão AZA desceu da Kombi, olhou meio sem graça, por causa do silêncio e acenou com a mão, gesto característico do programa.
Ele nem estava usando o super capacete!
Depois de alguns segundos, uma das mães deu o primeiro grito, puxando o couro que viria em seguida:
- Viva o Capitão AZA! Viva o Capitão AZA!
Aí foi uma histeria generalizada, ele entrou no pátio ainda com um sorriso meio amarelo mesmo assim, não poderia imaginar que estávamos esperando que ele fosse um super-herói de verdade.
Os que apostaram em helicóptero, avião super-sônico ou nave espacial, como eu, fomos avacalhados pelos meninos maiores.
Mas na verdade eu agradeço ao nosso herói por essas emoções e principalmente por ele ter feito parte da minha infância de forma marcante.
Obrigado Capitão AZA!



José Benício
Enviado por José Benício em 12/03/2013
Reeditado em 12/03/2013
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