Um diálogo

Por Gilrikardo

---Puxa! como estás pessimista meu caro!

-Isso foi porque lhe disse que não voto mais, que não existe candidato digno de meu voto.

---Claro! ou vais convencer-me de que todos não prestam?

-Não é o caso de prestar ou não, mas sim fazer e não fazer. Até aqui, aqueles que levaram meu voto, em algum momento se desviaram das promessas de campanha e se revelaram excelentes construtores de projetos pessoais. Longe, e bota longe nisso, dos teóricos discursos populares.

---Acredito que esse teu pessimismo em nada contribui para melhorar a situação.

-Nominar-me pessimista porque discordo das inúmeras práticas de poder que aos olhos de qualquer criança é condenável. Bem como aceitar que o fictício pluralismo que nos é vendido, representa de fato as aspirações democráticas. É brincar com meus neurônios.

---Vais dizer que não somos uma democracia?

-No papel pode até estar escrito, em determinados segmentos pode ser até que ela circule, mas a pratica revelada nos aponta outras direções. No momento o que meus olhos alcançam é o predomínio de uma oligarquia privilegiada em todos os degraus que houverem.

---Oligarquia?

-Ou classe corporativista, isto é, não consigo perceber diferenças ideológicas ou até mesmo de atitudes entre os nobres políticos... pois mudam de partido como se muda de camisa, cadê a ideologia ou ainda defendem uns aos outros como se irmãos fossem, independente das cores partidárias a que pertençam. Lutam em bloco para os interesses da classe, para manter e criar benesses. Enfim, estão à margem da maioria cuja labuta dá sustento a tudo isso.

---É... parece que escolhestes o outro lado para denominar uma classe. Isso que dizes faz parte de todas as agremiações, associações, enfim em qualquer grupo haverão interesses próprios a serem defendidos. Por que não?

-Concordo que existam interesses próprios, o que discordo é que a existência dessa categoria transforme-se em dever único de preservarem-se em detrimento de causas maiores. O futuro da nação por exemplo. Pois as práticas demonstradas até aqui resultaram o abismo quase intransponível entre os anseios do povo e as realizações apresentadas pelos donos do poder. Veja nosso sistema de educação ou de saúde. Falidos.

---Não entendo como imaginas que se deva resolver da noite para o dia problemas como esses.

-Não imagino nada, só constato isso há mais de quatro décadas. Em quarenta anos vi as filas de miseráveis a procura de saúde aumentarem, os semi-analfabetos saindo de escolas sem a capacidade de produzirem uma carta qualquer. Também vi aqueles que ingressaram na oligarquia sofrerem uma revolução em suas vidas. Quem andava a pé, agora só anda de carrão, quem não tinha onde cair morto, hoje tem mansão, quem não sabia nem falar direito, hoje tira férias no exterior... O Brasil avança... as riquezas surgem... mas só uma classe mantêm-se acima desse ritmo... é a classe cuja crise nunca alcança... muito menos a existencial... para que mexer em time que está ganhando. E como essa turma ganha. Nem consigo imaginar. Só imagino que palavras como essas não passarão de um lamento.

---É pelo jeito você finalmente rendeu-se à realidade.

-Sim, mas qual? otimista ou pessimista?

---Puxa! Agora fiquei em dúvida meu caro!