Boneca

Histórias de pai e filho

Por Gilrikardo

Começo a acreditar que temos muito mais a aprender do que ensinar aos nossos filhos. O fato é que em determinadas ocasiões chamava minha mulher de boneca.

--E aí boneca... é prá hoje ... tá!

--Hei boneca! Tá na hora de um cafezinho. Que tal?

--A boneca tá a fim de ficar comigo hoje?!

Confesso que minhas intenções foram as mais variadas possíveis. Desde a sincera forma de carinho até, em momentos de ira, ironizar. E nas ocasiões que meu filho estava presente logo se pronunciava:

--Pára papai! Não diga assim. Não gosto.

--Não chame minha mãe de boneca.

--Chame de professora ou mamãe. Boneca não.

E assim, repetidas vezes, ele no alto de seus quatro anos e pouco censurava-me. Até o dia em que minha curiosidade transbordou e perguntei-lhe porque não deveria chamar sua mama daquela maneira. Para minha surpresa, espanto e longa reflexão veio sua resposta:

--Papai! Com bonecas a gente brinca, amassa ou arranca pedaços. Depois que ficam velhas, cansamos e jogamos fora.