O que faria sem a net?

Ontem à noite, assim que cheguei da Igreja, como de costume, entrei no facebook. Uma de minhas sobrinhas, que também acabava de chegar comigo havia já postado uma pergunta: Que seria de mim, se a partir de amanhã, não tivéssemos mais a Net?

Vejam bem, ela vai completar 13 anos. Então comecei a relembrar o que fazia parte das minhas preocupações nessa idade. Hoje tenho 64 anos, então 51 anos se passaram. E claro, não tinha a Net. Conheci a Net já no ano de 1986, já trabalhando no Banco do Brasil na cidade de Governador Valadares MG.

Se não tinha a net, como nos virávamos? Telefone poucas pessoas tinham, não existia o Orelhão, tinha o posto da CTGV Companhia Telefônica de Governador Valadares, acho que foi uma das últimas a entrar no rol das privatizações.

Nessa idade ainda brincava até de cozinhadinha. À noite brincamos de roda. Estudávamos, e na escola jogávamos queimada. Meu apelido era Ratinho, era a primeira ser escolhida no par ou ímpar, pois era pequenina e corria mais que as gordinhas, para acertarem uma bola em mim, era difícil.

Nosso dia a dia era de labuta. Já ouviram falar em fogão de pó de serra? Pois sim, uma das nossas responsabilidades. Todo dia íamos a uma Serraria Santa Luzia, e de lá vínhamos com uma bacia cheia.

Bom, eu gostava de estudar, mas não podíamos comprar nossos livros. Herdávamos dos primos, que sempre estavam uma série na nossa frente.

Namorar? Quem olharia para um pedaço de gente, que tinha tantos apelidos, tanto na escola, como na vizinhança? Ratinho e Mosquitinho, na escola. Na vizinhança era a Ximbica que fazia mandados em troca de uns trocadinhos, ou alguma coisa gostosa pra levar pra escola.

Mamãe costurava muito. Não havia a pronta entrega. Tinha grande freguesia. E com isso me tirava dos brinquedos pra ir ao Armarinho do Sr. Chiquito. Uma hora era uma linha que acabava outra ora era colchete. Quando eu chegava, ela dizia que era pra trazer uma dúzia de botão madrepérola. Lá ia eu de novo.

À noite eu ia dormir com uma vizinha, pois tinha medo de passar mal, e eu servia de companhia.

Final de semana ia ajudar um tio no barzinho. Aí o apelido era mais feio, Tira Gosto, também representando o meu tamanho.

Nas férias, quando não ia pra Fazenda da Floresta, ia pra Jampruca MG . Tanto fazia pra mim. Podia pescar e tomar banho no açude, um pomar que tinha de todas as frutas. Em Jampruca gostava de ajudar minha tia, ela fazia salgados e tinha uma porta de venda na frente da casa. O rio era caudaloso, tinha peixes, mas agora já não tem mais. Lá havia um único restaurante e dormitório, a Rio Bahia passava lá dentro. O dono me chamava pra cantar no alto falante, e eu não me acanhava. Cantava músicas da dupla Cascatinha e Inhana, Teixeirinha e outros. O restaurante ficava cheio.

Os anos se passaram, era até que um pouco inteligente, sempre era chamada pra ensinar para casa aos filhos dos vizinhos. Aí passei a ter outro apelido, me chamavam de Rui Barbosa na escola. Dava um show em Matemática, Português, e demais disciplinas. Já não era mais o Ratinho das queimadas, estava terminando a quarta série do Ginasial. Hoje mudou de nome, nono ano do Fundamental.

Tinha que mudar de escola. Era mais caro. Ou conseguia uma bolsa ou parava de estudar. Uma colega que estudava comigo desde o primário, falou com o pai minha situação. Ele sabia que eu era boa nas contas. Me chamou pra morar com eles e trabalhar no seu armazém.

Se me falassem em internet, ia dizer que era ficção. Assim tipo o filme O Caçador de Androide apresentado em 1982, mostrava uma Los Angeles em 2019. E o 2019, está bem perto.

Voltando às preocupações da minha época, uma matinê era possível. Os dinossauros que se descongelavam e destruíam tudo. Django com Franco Nero, Minha Pistola é minha Bíblia, acho que com Giuliano Gemma, posso até estar trocando os nomes. Esses eram meus faroestes preferidos. Lia os gibis que meus primos compravam.

Um dia o amor bateu à minha porta, e eu já com 20 anos. Namorávamos através de cartas, eu já lecionando em Jampruca e ele trabalhando em Ipatinga. E cadê a net?

Como facilitaria nossas trocas de “ juras de amor”. O casamento chegou, os filhos vieram, e o amor acabou!

Hoje, tenho a net. Posto meus textos, bato papo com meus amigos. Mostro fotos dos meus lindos netos. E aí eu volto ao início do texto. O que eu faria se não tivesse a net amanhã?

Minha sobrinha tem razão em se preocupar!

Vó Didi
Enviado por Vó Didi em 18/03/2013
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