Pedagogia da Depressão

Comecei a lecionar em 1970, numa cidadezinha chamada Jampruca MG, que ainda pertencia ao Município de Campanário MG, perto de Teófilo Otoni MG.

A escola era uma das criações do nosso Governador Magalhães Pinto. Uma montagem de lata e um revestimento que parecia Duratex, ou mais ou menos isso.

O Ginásio funcionava num prédio cedido pela Igreja Católica ao Estado.

Bom, não é bem sobre esta estrutura física o meu desejo de escrever este texto. Em 1971, eu e as demais professoras que lá chegaram comigo, começamos a fazer Faculdade em Teófilo Otoni. Eu optei por Pedagogia, mas lecionava Matemática à noite no Ginasial.Pela manhã lecionava para o primário de 1ª à 4ª , no grupo de lata, que também era chamado de Grupo da grota.

Coloquei o título Pedagogia da Depressão, não em função do lugar onde lecionei, nem tão pouco pelo curso que eu fazia.

Tudo era feito por prazer! Os alunos queriam aprender, e os professores queriam ensinar! Fazíamos a Faculdade no sábado.

A merenda era escassa. O que o Governo distribuía era o triguilho. Mas não era tão ruim, as cantineiras também faziam a merenda com amor!

De vez em quando, pegávamos o jipe do Padre Franco, e íamos até as fazendas da redondeza e ganhávamos batata doce, farinha, fubá, mandioca, cacho de bananas, abóboras, ovos, etc. Eles ajudavam como podiam, pois seus filhos eram nossos alunos.

Fiquei lá até as proximidades do meu casamento. Tínhamos como diversão as horas dançantes no terraço de um comerciante Sr. Bené. Outras vezes promovíamos festas para angariar fundos para a Caixa Escolar.

Após meu casamento, fui para Cel. Fabriciano, onde lecionei uns dois anos. Viemos para Contagem MG em 1978. Em 1980 a 1982 lecionei na Escola Estadual Helena Guerra.

Em 1982, passei no concurso do Banco do Brasil, tomando posse em Betim MG.

Em 1986 divorciei-me. Criei meus filhos que tanto estudaram em escolas públicas e em privadas. Aí estou chegando ao tema que hoje escrevo.

Tenho acompanhado as discussões sobre a desvalorização dos professores. Cada vez mais a família se afasta da escola. Se afasta, no sentido de não acompanhar a vida escolar dos filhos. Sei que antes, quando o lugar da mulher era em casa, as coisas funcionavam diferentes. Tínhamos o apoio da família. Mas estamos em um novo tempo. A cada dia, que passa, mais mulheres, estão entrando no mercado de trabalho. Um avanço digno!

Afinal, os tempos mudaram, e estamos vivendo no topo de um capitalismo que ao longo do tempo deu uma reviravolta na família.

Eu me pergunto, sempre quando algum professor me conta o que está acontecendo nas escolas.

Dentro do grupo familiar houve mudanças. No sistema econômico houve mudança. Já não existem mais os grupos de estrutura de lata. E a escola mudou em que? De que adianta tantos pedagogos dentro de uma escola? Só para fiscalizar? Só pra repreender professores? Já não basta a mediocridade do salário? As salas com superlotação?

Alunos com armas escondidas em suas mochilas, drogas? Sim elas estão também adentrando nas escolas. Agressões físicas, um vocabulário que foge do decoro.

É a tudo isso que chamo de Pedagogia da Depressão. Tenho em meu grupo familiar, professores na rede pública municipal, estadual e em escola privadas. E o que mais reclamam é da falta de apoio, da família, da direção da escola, do grupo pedagógico que são os orientadores, supervisores e a maior culpa é do próprio Governo, pois não vê que ali que se formam cidadãos.

Os professores preparam aulas, aos alunos pouco importa. Os pais deixam de ir à escola. Eu fico preocupada, pois isso leva o professor a um quadro de descompensação, e nossos alunos precisam de educadores sadios, educadores que fazem de sua profissão um meio de ter uma renda sim, mas que o façam com amor. Vamos valorizar os professores. Vamos lutar por um salário digno, que as coordenações das escolas juntem-se a eles sem opressões, pois isso não leva a futuro algum. E é lá futuro que teremos o resultado do trabalho do professor de hoje.

Vó Didi
Enviado por Vó Didi em 19/03/2013
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