EU "INVENTEI" O... ROCK IN RIO !

EU "INVENTEI" O... ROCK IN RIO !

Um dia contarei esta estória nas "páginas" do OverMundo mas o fato que interessa no momento é mostrar que o nosso barraco no Morro dos Cabritos/Copacabana, RJ (veja texto in

www.overmundo.com.br/banco/um-dia-em-lilliput )

era um espanto com mais de 3000 "gibis" diversos e uma discoteca de quase 500 LPs, fora compactos e fitas-cassette. Os títulos iam de música caipira e macumba ao blues e hard rock, passando pelo heavy e até pela "head music", o chamado "som progressivo", marcadamente de desconhecidas bandas alemãs e bretãs. E muito rythm'blues, quase toda a coleção de B.B.King, inclusive um disco raro, cuja capa trazia meia melancia com um cabo de guitarra e os "riffs" que seriam a base de todos os demais LPs dele.

UM DIA... o office-boy favelado do Banco Francês e Brasileiro (depois B. Cidade de SP, depois Itaú, depois...) resolveu criar um show de rock, assim, sem mais nem menos, sem conhecimentos técnicos, dinheiro, espaço, apoio, sem nada DE NADA.

Um jornalzinho de anúncios gratuitos recém-lançado no Rio seria o "trampolim" através do qual divulguei o "ROCK'N ROLL SHOW". Cadastrei inúmeras bandas desconhecidas, contactei algumas de um certo nome, construí um enorme arquivo de telefones/endereços de músicos, grupos, maestros, estúdios, espaços como faculdades e clubes onde havia shows (ou se podia fazer um), de empresas de grande porte para as quais escrevia cartas à mão ou datilografadas e até um engenheiro de som com experiência na gravadora EMI/ODEON foi envolvido em meu megalômano projeto.

Renato Marques era seu nome e teve uma colossal paciência em atender a todos os meus pedidos, projetando a parte sonora do palco do show e me instruindo sobre equipamentos de sonorização. Meses depois do inicio da "coisa" o Banco me poz "no olho da rua"... eu usava os telefones do Open Market como "caixinha de recados" e as máquinas para datilografar durante o expediente várias cartas.

Ficou dessa "loucura" toda a lembrança de bons momentos ouvindo excelentes grupos "de garagem" ou playground -- até em Cascadura, Niterói e São Gonçalo -- que infelizmente não "decolaram" e pude conhecer um tal de BARÃO VERMELHO, isto em meados de 1981, num prédio no final de Ipanema. Não tocaram naquela noite pois o síndico e 2 ou 3 moradores os impediram.

Um dos componentes do estranho grupo circense de rock "João Penca e seus Miquinhos Amestrados" me cedeu o telefone do baixista Maurício (xxx-2491) que, além de me informar sobre os melhores teclados e "sinthesizers", me convidou para assistir a um ensaio do Barão. Encarei a banda, depois famosa, e um magrelo de baqueta na mão, ao me ver declarou na minha cara que... "eu não realizaria coisa alguma".

Não sei se foi praga mas, em 22/abril/1982, eu receberia da RIOTUR o oficio 88/82 assinado por um tal de Anníbal Uzêda -- coronel que dirigia com "mão de ferro" os destinos do lucrativo carnaval carioca -- e que fôra contra o apoio inicial que sua Assessoria dera ao projeto. Foi o fim dos meus sonhos e tive que desistir da idéia.

Juntei a "papelada", o projeto do ROCK'N ROLL SHOW inteiro e o levei à casa do dr. Roberto Medina, no Jardim de Alah, no Leblon, na Av. Borges de Medeiros, número 51, conforme anotação minha. O resto o Brasil todo conhece... E essa é a minha história... quem puder que conte outra

"NATO" AZEVEDO · Ananindeua, PA 11/8/2007

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EU "INVENTEI' O... ROCK IN RIO ! (trecho final)

Rapaz, quando olhei os meus arquivos para escrever o texto acima fiquei estupefato com a "extensão" da minha audácia ao levar avante essa idéia delirante.

Há endereços/telefones de cartórios, de academias de música, de megaempresas de propaganda, de fabricantes nacionais de equipamentos eletrônicos, da secretária-chefe do gabinete da FLUMITUR e de uma infinidade de pequenas empresas, aparentemente todas contactadas por mim na época. Fabricantes de camisetas, serígrafos, produção de sanduíches, o "diabo a quatro".

O que ficou de tudo isso foi a certeza de que o país tem um número imenso de bandas & músicos de excepcional qualidade, prontos para o sucesso e, se o Brasil não fosse tão estúpido, certamente haveria lugar para todos fazerem o merecido sucesso.

Rendo minhas sinceras HOMENAGENS a alguns grupos que marcaram sua passagem por meu coração, pelo carisma de seus elementos e pela qualidade da obra que produziram.

A banda SANGUE DA CIDADE, de Botafogo, chegou a se apresentar no "Fantástico" e seu bandleader Luiz de Castro era uma figura ímpar. Fui a São Gonçalo, num clubeco do bairro Alcântara, ver o maior show de rock tipo anos 60 da minha vida, melhor do que já vi em filmes americanos, com a Banda enlouquecendo a platéia num show genial.

A melhor banda progressiva da época também era de Botafogo... o VENTO SUDOESTE, som magnífico, composições celestiais. E tinha um heavy excelente produzido na Lagoa pela banda FÚRIA DO DRAGÃO, cujo solista de nome Paulo gravou uma melodia linda para a namorada e eu criei duas letras em cima da obra. Outro Paulo, vulgo "Paulão", baixista de pêso, faria com Dalton (Medeiros ?!) e um mineiro de nome Raul uma "jam session" de arrepiar os cabelos, que trago gravada em fita cassette e que vale o seu pêso em diamantes. Sonho, mais um sonho, aliás, REGRAVAR esse material um dia, com os modernos recursos tecnológicos que temos agora.

Não cheguei a conhecer pessoalmente a banda ALMA DA TERRA, que pouco depois que saí do Rio (em dez./1983) gravaria um LP, segundo soube. Ouvi por rádio o Nei Matogrosso "estraçalhando" sua bela composição "Canto prá John". A versão original é bem melhor !

Peço sinceras e imensas desculpas a todos que acreditaram em mim, eu realmente tinha a intenção de realizar um modesto show nas areias da Praia de Botafogo. Não sei se conseguiria, eu não tinha a mínima experiência de absolutamente nada.

Ficou a recordação de ótimos momentos ouvindo músicas & músicos esplêndidos... e de bandas como a NOVOS HORIZONTES, BOOMERANG, ÁGUA BRAVA (com um lindo show de luzes na abertura), CONTRA TEMPO, ACORDE, HEIN, Grupo VÉRMI, DISRITMIA, ÁGUA NASCENTE, OVERDOSE (do acima citado Dalton, magnífico guitarrista de blues que morava na Av. Rainha Elizabeth 376, em Copacabana) e tantos outros grupos e pessoas que sonharam e ainda sonham com um espaço/tempo para o verdadeiro rock'n roll. ESSE DIA VIRÁ... !

"NATO" AZEVEDO

(OBS: texto publicado em 2007, no site cultural OVERMUNDO)