Como seria se não tivesse sido como foi?


Por inúmeras vezes, quedei-me a pensar como seria minha vida se não tivesse sido como foi. Que rumos outros teria tomado meu destino, por certo bem diferentes dos atuais, caso tivesse feito outras opções em alguns momentos de minha vida. Seria mais ou menos infeliz que agora, teria mais ou menos bens do que tenho, teria ainda a mulher amada a meu lado, teria mais filhos, mais netos, mais ou menos amigos que os que ora tenho?

Onde estaria vivendo agora, em minha cidade natal vendo o tempo passar lentamente, bucólico, em uma sucessão de dias iguais, ou, indiferente ao burburinho, no Rio de Janeiro, sentado à beira de uma praia ou de uma piscina, ou em Cabo Frio novamente mergulhando em suas águas azuis e levando a vida simples de um pescador, ou, quem sabe, no exterior desfrutando de praias mediterrâneas ou, até mesmo, doce sonho, acampado com meu trailer ou motohome à beira de uma praia deserta nos confins deste Brasil, banhando-nos nus e doirando o corpo por inteiro, amando-nos na areia e protegidos de olhares indiscretos, passeando de mãos dadas ouvindo o batido rítmico das ondas se quebrando a nossos pés, enlevando-nos com o por do sol e o nascer da lua cheia?

E, afinal, quem seria esta mulher amada que me acompanharia em meus descaminhos, em meus sonhos julgados por muitos como devaneios de um louco irresponsável? Das tantas mulheres que tanto amei em minha vida, cada qual a seu próprio tempo e a nosso próprio modo, minhas eternas musas descritas e cantadas em odes, sonetos, crônicas e poesias e que, ao final, o tempo fez questão de nos separar, poucas delas se disporiam a este doce “far niente” que foi minha vida, como se o cumprir de um karma, como se o caminhar em direção a um destino previamente traçado e cujo fim ainda desconheço, já que ainda não concluído e ainda por viver e escrever.

Contudo, de cada uma delas, até mesmo das felizmente poucas que com o término de nossos relacionamentos, por razões que são só suas passaram a me odiar, guardo as melhores recordações dos bons momentos que vivemos, do quanto as amei e agradecendo pelo tanto que fui amado, consciente de que, em uma espiral cósmica evolutiva, elas propiciaram que me tornasse no que hoje sou, melhor a cada uma de suas passagens por minha vida, entregando-me bem melhor para a que a sucedeu, pois com elas aprendi o verdadeiro significado destas palavras únicas e tão simples que são amor e saudade.

E, talvez, quem sabe, estivesse agora sozinho, asceta, rememorando e contemplando distante o tudo que foi minha vida, no turbilhão de doces lembranças das tantas mulheres tão amadas e que se perderam nesta longa caminhada, com um sorriso nos lábios e uma lágrima não contida a escorrer na face, um lobo da estepe, simplesmente um estranho na praia...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 21/03/2013
Reeditado em 28/09/2013
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