CARGA PESADA

Mirna era casada com Luiz e tinha dois filhos o primogenito Alvaro e a pequena Marcia. O marido, caminhoneiro, passava muitos, muitos dias longe da casa, deixando saudades no coração da esposa e das crianças, que passavam a viver a espera da volta do pai.

Essas voltas paternas eram recheadas de muita alegria, onde o brilho dos olhos de Luiz parecia estender-se e iluminar as longas estradas escuras, que faziam partes das estórias contadas para os filhos. Quando relatava suas andanças por esse mundo de Deus, o caminhoneiro esquecia-se das noites em claro no volante, das filas; da fome; do frio e de todos os desafios provocados por essa vida danada.

Mirna ouvia Luiz contando suas passagens, enfeitadas com seu carisma e senso de humor, fazendo com que a sua risada constante enchesse a casa; saisse a rua; se espalhasse pelo bairro; imundasse a cidade, querendo, quem sabe, misturar-se as buzinas dos caminhões dos comboios distantes...

Os olhos dos pequenos brilhavam, na espera que a mala xadrez se abrisse e começassem a surgir os presentes, os "recuerdos", trazidos dos mais diversos lugares. Os papéis de presente amassados, eram compensados por uma palavra de carinho do pai, que cansado, dividia-se entre aqueles, cujos dias de afastamento eram preenchidos pela esperança e pela certeza que cada dia que passasse, mais perto estaria a chegada do pai.

Esses dias, com o marido em casa, com a familia reunida, deixavam em Mirna uma grande sensação de felicidade. Esquecia-se, nesses momentos, da tristeza e da saudades que provocava a sensação de vida partida.

Nessas ocasiões, ao findar o dia, ela gostava de fechar a casa, pois ao colocar o cadeado no portão, sabia que naquela noite sua vida estaria completa.

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 23/03/2013
Reeditado em 24/03/2013
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