Brinquedos e Verdades

Lembro de quando eu era criança... Uma vida feliz e tranqüila, confiante em tudo o que era refletido nos olhos do meu pai. O mundo era um grande mistério, o que me importava somente eram os meus brinquedos, ou se o meu desenho animado favorito já havia começado. Coisas simples me faziam feliz... Um punhado de balas que surgiam no meio da madrugada, ao lado do meu travesseiro.

Os bons momentos vividos em família... Os aniversários simples, que para mim foram poucos, pois o dinheiro nunca era suficiente... Foram três no total, mas somente o primeiro foi em família... Um bolo esculpido pelas mãos da minha mãe, que me prometeu desde os meus três anos, e que se realizou aos nove. Hoje, isso tudo não passa de recordações impressas em um álbum amarelado e desgastado pelo tempo... Fotos que contam a história por si só, sem a necessidade de legendas ou explicações.

Depois de um tempo, os primeiros amores, paixonites adolescentes... Nenhuma realizada, apenas imaginada como deveria ser se conseguisse um dia namorar com aquela linda menina de cabelos lisos, de olhos verdes, quem nem sabe que existo, mas que eu sei que passou a ser o centro da minha existência. Depois de muito tempo, enfim a conquista de um amor... Por pouco tempo. Meses dataram o fim do que nem começou, ou sequer existiu de verdade. Ansiedades e planos direcionados a alguém que no fundo nem eu mesmo sabia se amava ou não... Por vezes eu deixei de me amar, que dirá aos outros então.

No decorrer destes acontecimentos, a vida começou a investir em seus golpes... Os primeiros mais leves, para não machucar muito, só chamar a sua atenção, depois de um tempo e de experiências adquiridas, os golpes ficaram mais fortes e duros, e aos gritos permanentes nos ouvidos, fazendo assim você acordar e lhe dizer: “Bem vindo à vida real meu garoto, pois agora você é meu, e quem dita as regras sou eu, e a sociedade lhe mostrará como deve ser. Se você não quiser que seja assim, do meu modo, tudo bem, mas pagará um preço muito alto por querer lutar contra mim. Faço isso há muito tempo, desde que o mundo é mundo eu transformo meninos em homens e garotinhas em mulheres, alguns sofrem, outros aprendem a aceitar minhas regras e assim se passam por pessoas felizes, em uma sociedade artificial e que dita tudo o que tem que ser feito.

Mas mesmo depois disso tudo, por mais estranho que pareça, acredito e confio que posso lutar contra você. Não preciso acatar todas as suas ordens, pois o modo como você vive foi regrado por pessoas sem sentimento, que sempre visavam a exploração e crescimento em cima do sofrimento dos outros. Uso estas palavras como armas, para lutar contra você, e sem nunca esquecer do meu passado, dos tempos dos heróis dos desenhos, pois vi muitos que sofriam um bocado mas continuavam sendo heróis, pois mantinham a dignidade e o amor ao próximo, mesmo tomando diariamente porradas e mais porradas de você. Sei que o que passo agora uma parte a culpa é minha, e a outra é sua. A minha é que fui exasperado em algumas decisões e cheguei a este ponto... E a sua é que você não aceita que eu não aceito suas regras, seus cabrestos e frases de melancolia como “Todos passam por isso”, ou “É sempre assim”. Não aceito e não vou aceitar nunca, pois se você vai continuar a ser assim continue, só sei que quem vai fazer o meu caminho sou eu, e que não vou ficar a mercê do seu ritmo, Senhora Vida.

Rilan Ancelesti Orn Geacco
Enviado por Rilan Ancelesti Orn Geacco em 27/03/2013
Código do texto: T4210504
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