Tio Patinhas

Tio Patinhas

Lúcia Rodrigues

Todos os dias, Vânia, Valéria e Vilma, filhas do Sr. José Geraldo observavam que o vizinho da casa ao lado abria um cofre e manipulava alguns pacotes de moedas e organizava as cédulas em montinhos. Das janelas do sobrado, onde moravam, os pequenos presenciavam aquele personagem, sem o mínimo propósito de obter o código secreto do cofre.

É que se destacava, no rico imaginário das crianças, aquela figura do personagem da Walt Disney, Tio Patinhas, considerado o pato mais rico do mundo, quaquilionário, conhecido pela sua avareza. As histórias em quadrinhos acontecidas no mundo fictício da cidade de Patópolis materializaram-se naquelas cenas diárias da contagem do dinheiro.

O antigo carro, parecido com a limousine do Tio Patinhas, estava sempre na garagem aberta, à frente da casa, e consolidou o apelido na cabecinha de cada uma daquelas crianças. Elas só se referiam o vizinho com o apelido de Tio Patinhas.

O Sr. José Geraldo, atento a toda a movimentação das três crianças, logo descobriu o apelido e não gostou. Apelido era coisa desrespeitosa e ele não queria confusão com o vizinho. Mantinha com ele um bom relacionamento que precisava ser mantido. Mas todos os dias ouvia as filhas falarem no tio Patinhas, rindo na maior satisfação. O pai precisou intervir:

— Crianças, as pessoas precisam ser respeitadas como são. Não estou gostando dessa brincadeira com o nosso vizinho. E não quero também que fiquem bisbilhotando, vigiando os atos dele. Isso é muito feio.

Mas estava difícil para a meninada ignorar aquele cofre com tanto dinheiro. Esqueceram-se das recomendações paternas e continuaram a espionar a casa vizinha. Os olhinhos brilhavam, quando chegava a hora da contagem, da retirada ou do depósito de mais dinheiro no cofre.

Um dia, o pai, de saída com toda a família, percebeu que havia um alvoroço na prosa das meninas. O pivô era o Tio Patinhas.

Sempre muito tranquilo e amigo da paz, precisou ser mais enérgico para ver se acabava de uma vez por todas com aquelas pendengas.

Preocupado, recomendou que definitivamente não queria mais ouvir aquele apelido em casa. Depois de dar os últimos conselhos, bem enfáticos, convincentes e persuasivos, o Sr. José Geraldo e Dona Zeli saíram a passear com a criançada.

Já na rua dão de cara com o vizinho. Distraidamente, e com os conselhos dados às três filhas ainda na cabeça, foi o que saiu no cumprimento:

— Bom dia, Senhor Patinhas!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 30/03/2013
Reeditado em 21/04/2013
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