Pegadinha Institucional

RJTV de ontem, à tarde, focalizando um “pega” na Barra da Tijuca. Rapaziada provavelmente da classe média apostando corrida na Avenida das Américas com os próprios carros ou com os de seus pais ou, quem sabe, com carros roubados.

O “pega” acontecia num trecho de 1km do logradouro onde não havia aferidores eletrônicos de velocidade. Um policial da PM é filmado orientando os rapazes a realizarem a disputa sem grandes aglomerações ou movimentações que possam chamar a atenção e provocar ligações de moradores para a PM pedindo providências das autoridades. “O ideal seria ter plateia, maluco, pra dar grito”, o RJTV mostra o policial comentando com os rapazes ao seu lado que riem, numa demonstração de aprovação. Ao invés de autuar os infratores, o policial provoca novos risos ao admitir que “está dando aula de como fazer o racha sem chamar atenção”.

O que pode ser mais estapafúrdio nesse caso é a reação da Prefeitura do Rio, comunicada pela repórter do informativo e lida hoje também no Globo: “Prefeitura prometeu instalar mais radares eletrônicos no trecho”. Como se essa fosse a principal atitude destinada a coibir esse tipo de irregularidade.

Como se trata de atividade esporádica, presumivelmente programada para dias e horários (em geral à noite) sem grande movimentação de veículos, é natural que a criatividade dos rapazes os levem a burlar de alguma forma os registros de velocidade eletronicamente aferidos. Através da alteração de um dos algarismos da placa, ou da vedação de toda a placa, ou até da retirada da placa, já que a fiscalização, a julgar pela reportagem do RJTV, se dispõe a oferecer algum tipo de colaboração. Como aulas práticas.

Por outro lado, eles podem optar pela realização das disputas mesmo que o trecho onde se exercitavam esteja agora cheio de “pardais eletrônicos”. Tal como fazem certos motoristas que continuam a dirigir bêbados (com ou sem carteira de habilitação) e a provocar acidentes (em que tiram ou não a vida de outras pessoas), a despeito de a presidenta Dilma ter assinado o aumento de mais de 100% do valor da multa para esses casos.

Os radares, portanto, de nada vão adiantar. Servirão apenas, e mais uma vez, para contribuir para o aumento da arrecadação financeira municipal. Constituindo-se em mais um pretexto para esse fim a opção da Prefeitura pelo seu uso nesse caso. Quando uma severa fiscalização, por guardas mais habilitados da PM ou agentes do Detran, seria uma solução definitiva para o problema. Aliás, por que não programar operações da Lei Seca para o trecho?

Rio, 01/04/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 31/03/2013
Reeditado em 10/04/2013
Código do texto: T4217084
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