Eu e a Enchente de 81

Eu e a Enchente de 81.

Faz 32 anos, mas lembro-me como se fosse hoje daquela quarta-feira,

dia 1° de abril de 1981; dia da enchente de 81, como é chamado pelo

povo. Infelizmente era o dia da mentira e muita gente não acreditou

que fosse verdade o que diziam sobre o rompimento do Açude

Mãe-D'água, lá em Campo Redondo. Era verdade o que dizia Maria de

Fátima da Silva, telefonista da TELERN.

Lembro-me que era mais um dia de muita chuva daquele mês de abril, que após março abriu mais um mês chuvoso!

Eu era um rapazinho franzino, esperançoso por melhores dias, que vinha

lá do Sítio Várzea Grande, todos os dias, ou melhor, quase todos os

dias de bicicleta, e às vezes até a pé, meia légua até a BR 226 pegar

o ônibus dos estudantes de Tangará para concluir meus estudos aqui em Santa Cruz. Esse era meu sonho!

Debaixo de chuva saí de casa, debaixo de chuva peguei o ônibus e

debaixo de chuva cheguei aqui às 18h 30min. Ao chegarmos ao colégio,

eu e um colega de Tangará recebemos a notícia: não haveria aula. As

pessoas daqui estavam apreensivas frente a possível destruição da

cidade.

Corremos para a igreja, para a Matriz de Santa Rita de Cássia.

Lá chagava gente aos borbotões! Eram pessoas que vinha principalmente

do Bairro Paraíso. Com seus pertences que tinham; roupas, utensílios

domésticos. Até passarinhos em gaiolas eu vi eles trazendo!

Enquanto isso, ocorria frente a nossos olhos, de mim e do meu colega,

alguém chega e nos chama para voltarmos, pois o ônibus estava a nossa

espera na praça.Durante a volta, a chuva continuava forte. A minha

preocupação era como chegar a minha casa. Pensava na coalhadinha,

consumida antes de dormir feita por minha querida mãe-Que Deus a

tenha! Não deu. Dormi ali mesmo na Br 226, na casa de uma pessoa que

nunca vou esquecer pelo que fez por mim: Seu João de Caqui, que hoje

mora no Conjunto Cônego Monte.

No outro dia, soubemos dos estragos que fez aquela enchente. Muita

destruição! Faltou energia em grande parte do Estado, que dependia da

Subestação daqui, como Natal, por exemplo.. Até algumas pessoas

perderam o que tinham de mais precioso: suas vidas.

Que dia difícil aquele! Foi muita chuva! Muito mais que o sertanejo pede hoje.

*** João Maria de Medeiros é professor, poeta e cronista.

JOÃO MARIA DE MEDEIROS
Enviado por JOÃO MARIA DE MEDEIROS em 31/03/2013
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