Aparências

Nem tudo que parece é. Nem tudo que é, parece. E tem coisas que nem parecem, nem são. Coisas e pessoas.

Ultimamente tenho refletido muito sobre as aparências. O que somos, o que parecemos ser, o que gostaríamos de ser, o que pensamos que somos e, enfim, o que os outros pensam que somos.

E, para minha tristeza, isso tem me custado algumas desilusões. Aliás, há algum tempo que sei que NOS desiludimos, não os outros. E nos desiludimos, quando começamos a tirar as máscaras. Quando nos olhamos no espelho e vemos a criatura nua e crua. O eu real. E, pior ainda, quando descobrimos que algumas pessoas que convivem conosco, já viam esse ser real, há algum tempo.

Como elas também usam máscaras, fingem não nos ver como somos, pois também nos idealizaram. Assim, desiludem-se também. E quando tiramos a máscara do ser ideal, rui também a imagem que criamos junto aos demais, com nossas posturas e atitudes, nem sempre tão sinceras, quanto pensávamos, fossem.

Diante dessas reflexões, percebi a fragilidade de nossas grandes amizades. Elas até podem ser sinceras, aparentemente. Mas, como somos desconhecidos para nós mesmos, não há como existir sinceridade absoluta nos sentimentos que abrigamos para com os outros. Nossa infantilidade evolutiva ainda não nos permite amar o desconhecido, apenas porque é assim que deveria ser.

Ainda não aprendemos o auto-amor, que é o princípio. Não há ainda, amor nem amizade que resista às contrariedades. Ensinamos, ou tentamos, amar incondicionalmente, aceitarmos as pessoas como elas são. Mas tudo muda, quando a vítima somos nós. O melindre que condenamos nos outros, vem à tona e nos afastamos de pessoas que dizíamos amar e compreender, aceitar com seus deslizes, relevar suas imperfeições.

Não chamo isso de falsidade, mas sim imaturidade. Falta de vivência para sabermos que dentro de nós, ainda abrigamos muitos sentimentos não muito elevados, disfarçados sob o manto de uma pseudofraternidade, pois que essa, também ainda não sabemos aplicar em nossas relações.

Fazendo um balanço, percebi que muitas pessoas que pareciam ser muito amigas se afastaram, lenta e gradativamente. Sei que é minha postura, minhas atitudes que deram motivos. Sou fiel a mim mesma, acima de tudo. Poderia ser mais benevolente, menos exigente, transigir mais. Talvez o meu prazo para isso, seja menos longo, minha paciência tenha um limite menor.

O meu maior problema é tentar agir dentro dos princípios que prego e que aprendi. E esperar que as pessoas que convivem comigo, dentro de um mesmo parâmetro, com a mesma vivência, façam isso também. Sei que cada um tem sua própria medida de tempo. Porém, esperarmos que os outros relevem constantemente, sejam continuamente benevolentes para com as nossas falhas, que já teríamos tido tempo para corrigir, é desejar que sejam coniventes com elas.

Se eu preciso me esforçar para modificar-me, para superar essas imperfeições que podem afastar pessoas que eu queira bem, penso que também elas devem esforçar-se para corrigir aquelas falhas que, com tanta constância, insistem em cometer.

Se a nossa reação à uma crítica, é outra ainda mais feroz e decidimos nos afastar de quem criticou, é porque ainda não aprendemos o essencial. Se falamos dos melindres, é o dos outros, porque nos é difícil admitir que nos melindramos também. Usamos até sinônimos, para parecer que não, assim como não admitimos ter defeitos, mas sim “imperfeições”.

Tenho consciência de que não vivemos num mundo perfeito, nem espero perfeição de ninguém, assim como sei que estou longe dela. Esperam que eu me modifique, para me aceitarem, mas não gostam que eu espere a recíproca.

Estou mergulhando em mim e trazendo à tona as máscaras e tentando despir-me delas. Será que a nova criatura que irá emergir conseguirá agradar aos que execram a atual?

22/03/2007