Criança diz cada uma... (3)

Pedro Bloch, médico pediatra e escritor, mantinha a coluna “Criança diz cada uma...” na extinta revista Pais & Filhos. Eu me deliciava lendo aquela página mensal. Numa espécie de homenagem, mais uma vez sem autorização, tomo emprestado e faço uso do título e da idéia:

Carminha, maranhense, a nova empregada, aproximou-se de Guilherme, seis anos, e perguntou:

- O quê que tu quer almoçar, Guilherme?

- Arroz, batata frita e almôndega...

- O quê?

- Eu já falei...: arroz, batata frita e almôndega...

- Ô, Guilherme, eu num sei o que é almôndega não...

- É assim..., aquele bolinho de carne, redondinho, “cunzinhado” com um pouquinho de jerimum...

- Ah, Guilherme, eu num sei fazer isso não. Quando tua mãe chegar, eu peço pra ela me ensinar, tá?

- Tá bom... Então faz bife... - E acrescentou - Também, tu não tem culpa porque tu nasceu no Maranhão, né?

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Natália, 3 anos, ao sair da escola teve o seguinte diálogo com sua mãe:

- Oi, minha filha, o que você fez hoje?

- Brinquei de massinha..., brinquei de pintar... e brinquei com a Eduarda...

- E o almoço tava bom?

- Tava

- O que você comeu?

- A gente comeu arroz..., frango..., feijão e milho...

- Milho verde?

- Não, mãe...: milho amarelo!

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Um garoto moreninho, simpático, cabelinho escorrido, com uma mancha negra no lado direito do rosto, levantou-se da poltrona e saiu em expedição percorrendo a aeronave durante o vôo. A comissária aproximou-se e tentou puxar conversa antes de levá-lo ao seu lugar:

- Oi! Como é o nome deste menino bonito?

O guri olhou para os lados, como se quisesse ter certeza de que a conversa era com ele, e respondeu:

- Meu nome é Anchieta...

- Anchieta de quê?

- De carne e osso, ora...

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Minha filha mora no 5º andar e, à guisa de proteção, instalou redes de nylon nas janelas do apartamento. Outro dia alguém telefonou avisando que dois meninos estavam dependurados naquelas teias. Mariana correu a acudir e deu com o filho e um amiguinho seu escalando aquele artefato. Para não evitar acidente, os pestinhas foram cuidadosamente removidos daquele esporte radical. Já em segurança, sendo alertado sobre o perigo que correram, Guilherme encarou sua mãe e, com ar de super-herói, falou:

- Puxa, mãe..., a gente tava só brincando de Homem-aranha...

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Reunião informal na chácara de uns sírios. A música árabe imperava no ambiente: “ranaiê-raba-la-raba-ranaiê-rava-naguila-ranaiê-raba-la-raba-ranaiê-rava-naguila-ranaiê-raba-la-raba-ranaiê-rava-naguila-ranaiê-raba-la-raba-ranaiê-rava-naguila-ranaiê-raba-la-raba-ranaiê-rava-naguila”; Pedrinho, 4 anos, incomodado com o ritmo desconhecido e aquelas palavras incompreensíveis e repetitivas, aproximou-se do seu pai e cochichou:

- Pai, eu acho que esse cd tá arranhado...

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 23/03/2007
Reeditado em 23/03/2007
Código do texto: T422705