Uma partida de dominó

Por Gilrikardo 12

- Vivemos o paradoxo em se querer saber tudo e assim viver em um poço sem fundo onde nem todas as respostas estão disponíveis ou conformar-se com o mundo que aí está e pronto. Acredito que ideal é o bom senso, o meio-termo, é o equilíbrio entre essas duas situações, no entanto essa batalha em estabelecer limites tanto para nossos questionamentos quanto para nosso conformismo parece ser a “graça” a nos conduzir.

E continuava ele...

- Poderíamos dizer que esta falta de medida em nos determinar limites é a força que nos leva, mesmo a trancos e barrancos, a agir como “seres humanos”; seres aptos a decidir, mesmo sem os ideais para tal, o rumo e a forma de nossos pensamentos.”

Dito isso, aquele velho jogador de dominós, levantou-se da mesa e pôs-se a questionar seus amigos. Perguntou-lhes se a vida era para ser gasta jogando dominós. A resposta que obteve:

- Grande amigo e companheiro de tantas jogadas, em nossa atual condição, velhos aposentados e prontos para a “reta de chegada” nos caberia mais o quê, além do prazer de estar na presença daqueles que nos trazem conforto.

- Conforto! Isso é estar confortável?

- Sim, para mim isto é sentir-se tranqüilo. Estar entre às pessoas que já me conhecem há muito; portanto conhecedoras de minhas limitações e virtudes.

- Então você quer dizer que está satisfeito com nossa atual situação. Tudo está como deveria estar e fim.

- Sim!

O velho não contestou, simplesmente coçou “a careca”, ajeitou as calças, lançou o olhar ao horizonte e continuou em sua reflexão. Ainda preso a seus pensamentos, senta-se à mesa, pois deveria fazer a sua jogada, restavam-lhe três pedras. Após dispensar a pedra seis e quatro, volta-se e continua perguntando:

- Não acredito que estejamos somente velhos e aposentados, essa é uma condição parcial sobre nossas vidas, isto é, nos limita a certas atividades. Um garoto de dez anos não pode dirigir ou um senhor de quarenta e poucos anos nunca será um atleta olímpico, essas limitações são naturais e compreensíveis.

O amigo responde-lhe:

- Puxa!, hoje você tá um “baita xaropão”, o que você quer que a gente faça. Estamos nessa rotina há anos e você agora vem querer mudar nossos destinos.

Levanta-se da cadeira e lança seus argumentos:

- Quem sabe de seus destinos? Estou perguntando se a sensação de que seus pensamentos e emoções ficaram idosas, é isso que eu quero saber, pois eu me sinto sempre o mesmo, não tenho a impressão de que estou com mais de setenta anos, sinto-me naturalmente o mesmo de sempre, com algumas adaptações inerentes a vida humana (a dentadura às vezes lhe incomodava).

O amigo pede para ele continuar a partida, pois ainda tem jogo pela frente, ele joga a pedra três e dois, só lhe resta mais uma. Seu olhar permanece alerta como se estivesse procurando alguma resposta no horizonte. Eram cinco amigos que haviam crescido no mesmo bairro e estudado no mesmo colégio, enfim pareciam irmãos de tantas semelhanças em suas vidas.

Lá vem ele novamente:

- Qual o motivo que nos traz aqui nesta mesa quase todos os dias, será que é somente o dominó? Será a agradável companhia dos amigos? Ou será que não procuramos alternativas melhores e nos conformamos com o que está aí porque está pronto.

Ao que o amigo responde:

- É, hoje você tirou o dia para “filosofar” e pelo jeito vamos chegar ao lugar de sempre... nenhum? Aproveita e joga, é a tua vez.

- Hummm! Passo, não tenho cinco e dois, mas estou pela boa pessoal.

E assim, seguiram animados em mais um dia de dominó, cada um com seus pensamentos e opiniões. Eu insatisfeito com a idéia de que só nos restaria jogar dominós, segui meus instintos e por isso estou aqui digitando essas linhas na tentativa de amenizar meu inconformismo ou quem sabe alimentar meu otimismo pelas possibilidades que a vida nos dá em qualquer momento da jornada.