CINQUENTA TONS

Tenho um grupo no facebook chamado "eu gosto de ler". Nele partilho títulos de livros e textos que acho interessante, e alguns fazem o mesmo. Terminei de ler a um mês, a trilogia "Cinquenta tons".

Bem, o último, Cinquenta tons de liberdade tem um desfecho final bom, no estilo feliz. Diria mesmo que o último livro é bom. Tem um enredo bom, e explica o comportamento de Christian Grey.

Aliás, cria-se esta expectativa. E, todos esperamos por isto, porque sempre esperamos finais felizes. Mas, o dia-a-dia da vida está repleto de momentos felizes ou infelizes. Logo, o que é um final feliz? Existe final feliz? É um final feliz para aquele momento, que acrescenta na vida, mais luz, mais cor, mais prazer... Se um casal vive durante anos de sua vida, juntos, amando-se, criando laços e ampliando suas teias com filhos e relacionando-se com outros, e o desfecho final é a morte, certamente não é um final feliz. Mas, nascemos, crescemos, amadurecemos, envelhecemos e a natureza segue seu curso, e morremos. É um final feliz? Por quê? Porque deixamos uma prole, que perpetuará a nossa genética? Nem todos tem a sorte de envelhecer.

Mas, voltando aos Cinquenta tons. Não é a minha leitura favorita, porque tenho outra interpretação para o relacionamento saudável entre um homem e uma mulher, e discordo da autora. Mas, ele está longe de não ser uma realidade na vida de muitos indivíduos. Contudo, não é uma leitura de fácil degustação, frente ao apelo sexual muito forte, enfatizando um sadismo e ao mesmo um posicionamento da aceitação e erotismo de uma mulher inexperiente que, certamente, não está minha cabeça, cujo cérebro funciona muito bem. Há outros aspectos que envolvem o ser mulher que não concordo. Falo isto em relação aos dois primeiros: cinquenta tons de cinza e cinquenta tons de cinza escuro.

Quanto ao que eu poderia dizer sobre o que a leitura desse livro acrescentou à minha vida, sinceramente, li fazendo uma análise crítica, mas não acrescentou nada de positivo. Ah sim, mostrou-me técnicas de uso para intensificar o prazer orgásmico, mas estes não se aplicam a todos os casais. Algumas estão mais para aeróbica de alto impacto, do que prazer. Calculo que da até para emagrecer pela intensidade e pelo tempo dispensado. Deixa sim, pessoas excitadas com a leitura. Certo jovem comentou que estava lendo o livro, e recomendei que lesse em casa. Na minha visão, evitaria constrangimentos.

A autora cria uma aura de mistério em torno de um jovem de vinte e poucos anos, milionário, e que se dá ao direito de explorar e aviltar as mulheres com ele se relaciona. E de uma jovem, inexperiente, também com problemas de ordem familiar, e que no decorrer da história torna-se a salvadora e a resgatadora daquele arrogante jovem. Mexeu com tantas mulheres, que uma delas pira e persegue o casal e por ai que se desenvolve o enredo.

Fiquei pensando: será que todos os jovens, maduros e velhos milionários têm, de alguma forma, uma visão distorcida de que tudo está ao seu alcance, e que por esta razão, podem passar por cima de pessoas, invalidar valores morais e espirituais? Quantos Christians Grey há por ai a fora, de verdade? Gostaria de saber, pelo menos, a história de alguns deles, e como terminaram seus dias: felizes, sozinhos e solitários?

Precisamos repensar a educação e formação dos indivíduos dentro de suas famílias, porque dependendo do que for projetado em cada um, teremos cidadãos honrados, honestos, éticos e responsáveis, ou teremos indivíduos sem limites, sem ética, irresponsáveis, malandros, vulgares e etc, apesar de todo o verniz que o dinheiro concede. Entretanto, o ranço da mediocridade certamente irá aparecer em momentos de distração.

O livro vendeu, e muito. Como podemos analisar isto? Dentro dos indivíduos há um ser que precisa ser domesticado para poder viver numa sociedade? É só isto, ou há mais coisas por traz?

Acho que estou ficando velha, mas nem por isso, vou fixar residência no passado. Porque não tenho tempo para morar saudosamente nele. Aliás, nosso passado tem a ver com as relações interpessoais que formamos, as condutas e a educação que nos foi dada, através do moral, dos bons costumes, da fé, da integralização de um ser com outro. Eu faço parte do presente, e quero interagir e agir no meu tempo. Nesta interação eu coloco Deus e os valores morais que foram ensinados pelos meus pais e que continuam muito válidos. Alio a eles, os valores espirituais, que são compartilhados no dia-a-dia da fé cristã. E, depois, a fé, a maturidade, a responsabilidade e o amor burilaram e estão burilando a minha vida. Ainda tenho um longo caminho até a eternidade, e isto não se traduz na quantidade de anos vividos.

E, dentro da visão de que livros alcançam, ensinam e transformam vidas, vale colocar a Bíblia como o maior e melhor livro a ser lido. Há também outros livros, e coloco uma poesia de Castro Alves, que gosto de muito, chamado O livro e a América. Saber escolher um bom livro pelo seu bom conteúdo e pelo que deixará na memória é algo a ser aprendido. Todavia, devemos nos aventurar para fora do nosso universo, para podermos crescer, e adquirir ferramentas que nos façam lutar e sair rumo a caminhos melhores.