A morcega

Nos últimos 3 anos de minha vida, decidi que já havia quebrado todos os laços familiares, não era bem uma decisão e sim, um acontecimento.

Havia largado todas as roupinhas de bonecas impostas pela minha mãe e tomado rumo a uma vida extremamente oposta áquela que vivia.

Os olhos ficaram contornados de preto, os lábios rosados ficaram negros, o rosto angelical era tomado por metais e pequenos furos. Os cabelos mudaram de cor e as roupas eram largas, desleixadas e negras.

Os amigos também foram renovados e sábado já não era um dia de sair para um restaurante, e sim, para o encontro de várias tribos envolvidas como movimnento Punk, também haviam góticos, metaleiros, emos embora poucos. Um tentava superar a loucura do outro. E assim foi.

A escola era vista como um hospital. Só estava nela, quem aos nossos olhos, eram doentes. Um verdadeiro crematório de mentes, tornando-as cinzas irreversíveis.

Meus pais também enlouqueceram e as brigas eram constantes, afinal, não era mais criança e precisava voar com minhas asas negras em direção a noite e aos encontros cavernosos.

A escola já não era tão frequentada, ocorrências eram diariamente recebidas e as notas não saíam do 2 e 3.

Todos olhavam para mim, admirados com a diferença de estilo e a atitude exposta. Os velhos ao contrário, achavam ridículo o formato do meu cabelo, todo desordenado, e aqueles metais cujo nome denominamos de piercings.

Um dia fui a um dos encontros e perdi a noção do tempo, ao chegar em casa todos estavam dormindo - como de costume dormíamos entre 2 e 3 da manhã - Ninguém abria a porta e amanheci com cheiro de xixi de cachorro. Aquele dia - nem quero me lembrar - foi um inferno, minha mãe estava tão histérica que tinha arrumado meus trapos para sair de casa, apenas uma simulação. Pois não deixaram nem ao menos eu sair do quarto.

Passei quase uma semana sem sair, e o quarto já não existia.

Para relaxar, inalei um daqueles chazinhos que faziam bem a consciência e a paz que davam a todos os morcegos do recinto. Porém, nos levava ao delírio e alucinava as possibilidades de um retorno.

Novamente meus pais fizeram tempestade, e agora ameaçavam tirar os trocados e a escola, seria ninguém, como diziam. Não liguei para isso, e só dormia e saía à noite ...

O movimento de liberdade dos punks já não tinha mais sentido, pois não havia o que temer, a liberdade era dada, e estávamos apenas fazendo com que tudo que fizéssemos tivesse uma explicação: A falta de liberdade.

O novo mundo também trouxe algo de novo: a nova geração.

Paula Filth
Enviado por Paula Filth em 25/03/2007
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