Reflexão Cristã: A Ressurreição de Cristo e a Fronteira da Fé

Não consigo enxergar de outra maneira. Não existiria fé cristã sem a ressurreição, sem a certeza da vida eterna. É algo que constrange a minha perenidade humana, um pensamento tão vasto e definitivo que faz com que minha mente se desvie e se satisfaça em ritos e renascimentos simbólicos nas muitas páscoas da minha vida.

Mas o sentido da ressurreição de Cristo não é simbólico, é literal, é concreto, são as chagas da paixão revividas sob uma nova perspectiva. Obriga-me a pensar que estas podem ser minhas últimas palavras, que amanhã ou mesmo daqui a alguns minutos eu estarei morto para esta vida e mesmo assim isso não será o fim. Muda o foco das minhas ações, me ajuda a resistir à ilusão do agora em que meu corpo vive.

Cristo escolheu doze homens destinados ao esquecimento, ao desaparecimento histórico por não desfrutarem de nenhum poder temporal e os fez atravessar os séculos como pilares da construção da comunidade cristã. Não é pouco, mas vai além. Crer na ressurreição é acreditar que de alguma forma concreta todos eles vivem, inclusive Judas, aquele que o traiu.

A paixão de Cristo nos faz vigiar nosso beijo. A ressurreição nos mostra que nenhum mal perpetrado pela nossa natureza imprevidente é definitivo diante do amor divino e ao mesmo tempo põe freio à nossa ganância, fruto de nossas necessidades imediatas. O exemplo de Cristo não me deixa pensar de outra maneira, senão que seus algozes, assim como seus amigos e seguidores, estão juntos no amor de Deus, pois existe a eternidade para que o pastor busque e resgate suas ovelhas desgarradas e as traga de volta para junto das outras. Existe a eternidade para que o filho pródigo seja recebido pelos braços amorosos do pai ou para renunciarmos às muitas pedras que carregamos contra nossos irmãos, incapazes que somos de abrir mão de aplicar nossa justiça pessoal segundo nossos valores, nem sempre tão sólidos.

Ser cristão passa a ser uma renuncia diária às comodidades que meu corpo reclama todos os dias diante de uma certeza maior. São embates difíceis, acho que muitas vezes eu perco e chamam isso de pecado. Mas existem também os momentos em que consigo ser coerente com a minha fé. Isso fortalece a minha convicção e me ajuda a encarar essa luz que, de tão forte, muitos se recusam a olhar.

Marcelo FAS
Enviado por Marcelo FAS em 22/04/2013
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