O ovo ou a galinha? Direito ou obrigação?

Nunca teremos a resposta de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, se bem que ovo não nasce, logo...

E o direito e a obrigação? Qual vem em primeiro lugar, qual o peso de um e de outro na condução das nossas vidas. Depois que os políticos descobriram o filão de votos que a palavra direito concede se bem maquiada e usada todo mundo só fala e enxerga o direito. O direito está sempre em primeiro plano, sempre com prioridade na vida de cada um. A obrigação fica sendo apenas a obrigação dos Governos, que, aliás, não a cumpre direito ao passo que o direito precisa e deve ser exercido plenamente. Não preciso ser psicólogo – e não sou – para perceber que isso não está dando certo. Mas todo psicólogo que eu vejo em entrevistas também só dá destaque aos direitos. Isso faz aumentar o número de pacientes nos divãs, na medida em que exacerbado o direito ao direito e deixando-se a obrigação de lado, fica-se, de fato cada vez mais com menos direito. É igualzinha a história do queijo suíço; “quanto mais queijo mais buraco, portanto, quanto mais buraco menos queijo”. O direito na minha visão não existe de fato, é meramente a consequência do exercício da obrigação de cada um em benefício de todos.

Toda essa arenga porque um motorista, parado num baita engarrafamento na cidade de São Paulo, ao ser entrevistado por uma repórter sobre o engarrafamento, esbravejou. – Isso é um absurdo, a cidade de São Paulo não comporta tanto carro nas ruas. Daí, perguntado por que não deixava o carro dele em casa e pegava um coletivo, vociferou. – Eu tenho o direito de ter um carro e usufruir desse conforto. Ora bolas, e os outros todos naquele engarrafamento não têm? Quem não se sente na obrigação de fazer a sua parte para aliviar o trânsito, não tem direito a ruas sem engarrafamentos. Quem se acha no direito de jogar lixo pelas ruas e rios merece uma enchentezinha básica. E ontem eu vi a notícia de que prisioneiros que praticarem a leitura terão redução no tempo de cadeia. Até concordo, mas não seria mais produtivo reduzir as penas por pé de couve cultivado? Imaginem esses milhares e milhares de ociosos nas cadeias, cada um plantando um pé de couve e de tomate e de cenoura e de chuchu. Seria um adeus à inflação nos alimentos.