MORAR NA CASA DOS SOGROS, NÃO DÁ...

MORAR NA CASA DOS SOGROS, NÃO DÁ...

1957- Ano em que eu e meu noivo Nilson combinamos que nos casaríamos em setembro, no início da primavera, estação de clima ameno e florido. A que eu mais gosto. Nosso enxoval, foi comprado desde o início do ano; de cama, mesa e banho, tínhamos tudo. De eletrodoméstico, também, quase tudo, com exceção da geladeira e da máquina de lavar que deixáramos para comprar após o casamento.

Dos móveis, só tínhamos comprado os do quarto porque o resto, dependeria da casa que estávamos procurando para alugar, de preferência com dois quartos, sala, cozinha, banheiro, área e um pequeno quintal...

Nesse período, pouco tempo tínhamos para procurar, visto que trabalhávamos durante a semana e só dispúnhamos do domingo.

Dona Celina, minha sogra, então, sugeriu que morássemos na parte dos fundos, num quarto e sala ambos pequenos, o que eu logo recusei. O banheiro era único e não havia tempo suficiente para se construir outro, para nós dois. A cozinha também, era única.

Minha sogra tinha seis filhos já casados. Nilson era o último a se casar. As filhas mulheres chamavam-se: Dalva, Deise, Diva e Dulce; os homens: Naldo, Nelson e Nilson. Dessa prole, meus sogros já acumulavam 30 netos.

Dona Celina insistiu, alegando que quase todas as filhas, ao se casarem, moraram ali até que cada uma seguiu seu caminho, com o marido e os filhos.

Nilson, ante a insistência da mãe, pediu-me que cedesse, pois estava próximo o dia do casamento e, para nós, seria o ideal porque não precisaríamos pagar aluguel e assim, mais facilmente, poderíamos comprar a nossa casa...

Não muito satisfeita aceitei, mesmo porque senti que meus sogros estavam velhinhos o que deixava meu noivo apreensivo em deixá-los sozinhos naquela casa antiga. ( pensei que se fosse com os meus pais, eu teria o mesmo receio)...

Proposta aceita, Nilson rapidamente, deu um trato nos cômodos que iríamos ocupar, uma das minhas cunhadas fez umas lindas cortinas em voal , de cores azul e rosa, clarinhos , dando um toque suave naquele ambiente de casa velha.

Antes mesmo de me casar, todas às vezes em que ia à casa do Nilson, todos me chamavam de Terezinha, no que eu os corrigia:

- Por favor, meu nome é Tereza. Prefiro que me chamem pelo meu nome correto...

- Ora, por quê? ( Dizia minha sogra). _ Terezinha é mais carinhoso...(insistia)

-Não, Dona Celina, Terezinha é outro nome, não o meu.

E assim nos casamos na igreja sem grande pompa. A festinha foi na casa de meus pais na companhia dos meus parentes e os do Nilson, de amigos de trabalho meus e os dele, também, além de amigos em geral.

A Lua de Mel foi maravilhosa. Passamos oito dias num sítio em Areal, uma cidadezinha serrana, próxima à Teresópolis . No sítio, a comida era muito gostosa e a acolhida também...

Na volta pra casa, não fazia idéia do que ia passar. .. Ai que fui conhecer, realmente, meus sogros: Ele, seu João, um senhor idoso e muito calmo, andava curvado parecendo ser bem mais velho do que realmente era. Eu gostava daquele velhinho que me olhava com o coração. Felizmente meu marido era como o pai, calmo e amoroso. Todos o admiravam pela simpatia que irradiava, um astral maravilhoso que me deixava orgulhosa . Não cultivávamos ciúme e nossa parceria era de total confiança um no outro...

Quanto à Dona Celina, portuguesa, embora semianalfabeta, mandava na família toda, interferindo até na vida das filhas casadas. Se chegassem à casa com um vestido um pouco mais decotado, fazia-as trocar. Não admitia tanta indecência, como ela dizia...

Naquela época, a folga semanal das escolas públicas, era às quintas-feiras e, nesse dia, todas, como não trabalhavam fora, vinham para passar o dia com a mãe e, obviamente, traziam as crianças para visitarem os avós. Para Dona Celina, era a glória! Ela gostava de tê-los todos ao redor, só assim podia manipulá-los ao seu bel prazer... Para mim, era um suplício ter que aturar aquelas mães com suas crianças, fazendo algazarra, logo no dia da minha folga que, como todos sabem, eu também, era professora...

Comigo, a estória era outra: Dona Celina tentou fazer o mesmo que fazia com as filhas, só que não conseguiu. Com educação, respeitando a idade já avançada, eu fazia o que estava acostumada, sem dar ouvidos. ..

Ela então, com ironia, passou a me chamar, novamente de Terezinha . Ela sabia que isso me irritava e quando eu reclamava, Ela respondia:

- Á, esqueci... _ dizia_ E com isso, todos me chamavam de Terezinha, inclusive as crianças... Era tia Terezinha pra cá, tia Terezinha pra lá...

Não demorou, descobri que Ela mandava as crianças me chamarem assim, somente para me irritar...

Achei que poderia dar uma lição naquela turma. Uma forma antididática, mas que resolveria o problema...

Sabia de cor o nome de todos; porém, fingindo-me de esquecida, comecei a trocar o nome de todos, a começar pela minha sogra:

_ Dona Malvina, por favor, se o Nilson telefonar, diga-lhe que hoje vou chegar mais tarde...

- Quem é Malvina? _ perguntava ela espantada_ Não é a senhora? Não?? Á, desculpe, pensei que fosse... E desse jeito, cada dia trocava-lhe o nome: ora Malvina, ora Divina, ora Ondina, ou qualquer das Inas que surgisse, menos Celina...

O mesmo fiz com o resto da família: Chamava Dalva de Diva, Deise de Dalva, Dulce de Dora e Dora de Deise. Enfim, fiz uma barafunda danada, troquei tanto que no final, já não sabia quem era quem. Era isso mesmo que eu queria...

Uma das minhas cunhadas , a mais velha, resolveu inquirir-me:

- Terezinha! !! Você está de gozação com a gente? _ Eu estou? Perguntei...

- Aqui está a resposta da pergunta que você me fez: sendo eu uma só, pedi várias vezes que me chamassem pelo meu nome: Tereza! Mas vocês continuam chamando-me de Terezinha...

Após este episódio, minha sogra, passou a me respeitar porque Ela percebeu que uma pessoa educada, não precisa de discussões ou brigas para resolver as suas pendengas, como, também uma professora eficiente (modéstia à parte), sempre dá um jeito de ministrar, aos seus alunos, os conhecimentos, de forma lúdica e amiga...

Depois de seis anos de casada, conseguimos comprar nosso apartamento. Ficava perto da casa dos meus sogros... Entretanto, toda vez que falávamos em mudar, minha sogra dava um chilique. Era a chantagem emocional que Ela aplicava para impressioná-lo e fazê-lo desistir. Logo depois, meu sogro faleceu e ai ficou mais difícil, ainda... Mesmo assim, firmei pé que eu tinha direito de viver a nossa vida sem Ela. Meu marido hesitava... Resolvi que a família tinha que colaborar. Meu cunhado Nelson e a esposa já colaboravam pois moravam ao lado e sempre que precisávamos sair, eles ajudavam.

Finalmente, reuni a família toda: filhas, noras e netos mais velhos que pudessem colaborar, numa eventual falta. Expliquei que era necessária a ajuda da todos; não era justo que só eu e meu marido cuidássemos da Dona Celina; nós dois ainda trabalhávamos; das mulheres da família, ninguém trabalhava fora.

Tive que fazer uma escala... Nossa tarefa (minha e de meu marido) era receber a pensão da viúva e fazer as compras para o suprimento da casa. Aos outros, competia cuidar da vovó, fazer a comidinha dela, limpar a casa e ajudá-la no banho.

Minha sogra faleceu em 1974 aos 80 anos. Não resistiu a uma cirurgia, oriunda de uma fratura de fêmur. Que Deus a tenha no Reino do Céu. Amém

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 25/04/2013
Reeditado em 30/04/2013
Código do texto: T4258201
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