O caos
Começou tirando-me as palavras. Logo elas, que raramente me faltam. Que abuso era aquele de chegar do nada e me roubar fala? Depois, tirou-me o fôlego. Aquela parada rápida na respiração, como um susto. Um coração em pause. E o suspiro depois, recuperando todo o ar. Beijou-me o norte acima dos ombros como quem soubesse o caminho sem precisar de orientação da rosa. Os ventos vinham do sussurro. Em seguida, tirou-me a paz. Me deixou refém de uma saudade inquieta e um leve desassossego. Me acende todos os dias com ar de quem quer alimentar algo que estava morrendo. E some depois, apagando as luzes e me deixando adormecer no receio daquilo que não virá, amanhã. Sem que eu precise falar do pavor de todas as inseguranças, devolve-me o ar, as palavras e a paz , repetindo que afinal, o que é a paixão, se não essa coisa avassaladora, sem lógica, sem sentido e tão lindamente repleta de medos?