Vendedores de sinal

Se o sinal luminoso se aproxima, é possível que eles estejam por lá. Na Avenida Brasil, na Francisco Bernardinho, na Espírito Santo... É pararmos e eles vêm oferecer seus produtos. Doces e balas são a oferta mais comum, mas já há um deles que descobriu o filão do pano de chão... Consciência de sazonalidade também não lhes falta, e, como os capitalistas de carteirinha, costumam trocar os doces pela água gelada, tão logo a temperatura se eleva.

Eles não têm um perfil definido; jovens ou idosos, rapazes ou moças, lá vão eles ao distribuidor, fazem suas pequenas compras, acrescentam a mais-valia, que vale a vida, e vêm nos oferecer até com certa organização na informalidade, pois o troco costuma ficar em pochete à parte.

A abordagem é rápida, pois o amarelo e o verde não se quedam aos negócios periféricos. Há os que, certamente muito preocupados com a escassez de caixa, sugerem que a compra é a cota de ajuda do comprador motorizado na sociedade desigual. E no agradecimento evocam a Deus, prática incomum em relações comerciais. É a dignidade de vendedor cedendo às pressões da vida...

Sinal dos tempos, sinal da crise, sinal de um capitalismo que exclui, sou simpático a esses brasileirinhos e brasileirinhas lutadores, que vão brigando pelo seu espaço à luz dos sinais apressados. Fazem eles, talvez, a única opção que lhes garante o pão, sem violência e sem piratear produtos e, comerciando o legalizado, acabam contribuindo com a arrecadação de impostos.

É evidente que sua atuação requer a tolerância de muitos... Das autoridades, dos comerciantes estabelecidos, de nós todos, que guiamos pelas avenidas congestionadas e tantas vezes somos abordados e até fisgados pela isca do consumismo.

Até que os governantes ensejem políticas de emprego e distribuição de riqueza mais justas, sejamos, enfim, amenos e tolerantes com esses vendedores marginais... E, se bem à nossa frente, um negócio se realiza, contenhamos por segundos nossa pressa e afoguemos a ânsia de buzinar estridentemente, se não por generosidade, em respeito a um breve ritual de compra e venda.