TEMPO DE PRIMÁRIO

TEMPO DE PRIMÁRIO

06:00 hs., acordava, ia a padaria buscar um pão de meio quilo e um litro de leite, daqueles em garrafa de vidro. Tomava um banho meio frio, o chuveiro não era lá essas coisas, e vestia o uniforme. Camisa branca com manga comprida, abotoada até o colarinho, calça curta azul-marinho, meia branca até o joelho e o indefectível Passo Doble nos pés, primeiro e único para todas as ocasiões, sempre muito bem engraxado. Penteava o cabelo de corte americano, aquele, que parecia que tinham posto uma cuia na cabeça e passado a máquina manual, que cortava e puxava ao mesmo tempo (AI!!). Tomava um copo de café com leite, acompanhado de uma fatia de pão com manteiga, comprada por quilo na feira, e pronto, estava a caminho da escola. Dez quarteirões vencidos a pé, carregando a pesada pasta ( que tinha de durar 4 anos ) e a lancheira com um pedaço de bolo da mamãe, e um suco de laranja na garrafinha. Andava feliz, despreocupado e não chutava pedrinhas na ida, para a "fessora" não falar do sapato sujo e marcado. Pontualmente as 08:00 hs. tocava o sinal e formava-se a fila indiana, do menor para o maior, medindo a distância no braço, e com a mestra a frente, lá íamos para a classe, para mais um dia de aula. Português, matemática, ou aritmética se quiserem, história, geografia, desenho, moral e cívica, religião, e a professora com sua rigidez na matéria e ainda dando-nos exemplos de comportamento e atitudes. O silêncio na sala era sepulcral. Tocava o sinal e no recreio, comer o lanche e experimentar um pouco dos lanches dos amiguinhos, e depois ainda dava tempo de jogar uma bolinha ou brincar de pega-pega. Novamente o sinal tocava e retorno às matérias. As vezes pedia: Fessora, posso ir lá fora ? Corredores brilhando, silêncio total, banheiro limpinho e logo voltava para a aula, não queria correr o risco de ser pego no corredor pelo inspetor. Essa era a rotina do primário, com mãe em casa educando, professora ensinando e complementando a educação. Esse era o retrato da escola pública, que me ensinou os primeiros passos e formou o alicerce

da minha existência. Que saudades!!

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 01/05/2013
Reeditado em 01/05/2013
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