O gato da vovó

Aquele gato preto de mansinho chegou ao Bazar da Vovó e de imediato quis fazer amizade com as simpáticas senhoras que ali trabalham como voluntárias toda segunda e terça-feira. O ambiente era propício e tinha tudo a ver com ele: vovozinhas lindas e acolhedoras e os novelos de linhas e de lãs, fofos, fartos, oferecendo às unhas, língua, bigodes e pupilas do astuto gato um promissor passa-tempo. O gato tem uma instintiva necessidade em brincar com novelos ou outro objeto do gênero, para treinar sua postura própria para cada dia na caça de alimentos e estar sempre preparado para enfrentar os perigos. Gatos são muito inteligentes e aquela quantidade de panos cheirando à limpeza também daria uma cama para tirar uma boa soneca.

Cumprimentou a cada uma roçando-lhes as pernas com o corpo de cabo a rabo talvez pedindo carinho. A ele foi oferecido pão com manteiga. Ele lambeu a manteiga mas agradeceu o pão. Durante algum tempo virou rotina ele passar por ali para visitar aquele grupo tão animado.

Um dia, houve trabalho extra. Era uma quinta-feira e precisava fazer o planejamento mensal. O gatinho entrou sem fazer os cumprimentos costumeiros e por isso nem foi notada a sua presença. Terminado o trabalho trancaram a porta e foram embora para só voltarem na segunda-feira à tarde. Luzia, a coordenadora, teve uma surpresa ao abrir a porta. De lá saiu o gatinho preto miando fraquinho, resultado daqueles dias de jejum. Estes animais, de modo geral, não toleram muitas horas de jejum.

O cômodo, sempre tão bem limpinho, estava um caos. Um cheiro horrível dominava o ambiente. Cesta de lixo revirada. Poças de urina em cima da mesa. Doroti chegou e se prontificou a comprar álcool pra a limpeza. Lavaram e desinfetaram tudo: mesa, talheres, piso etc.

Mas o mau cheiro continuava forte e insuportável. Não tinham como trabalhar com aquele ar fétido. Na hora do lanche uma vovó exclamou:

— Não tem condição. Por aqui tem coisa feita por gato!

Voltaram a inspecionar tudo mas em vão. Não tendo mais onde vasculhar, Zélia subiu numa cadeira para olhar em cima da estante e gritou: — Achei! Era horripilante. Afinal o gatinho teve muito tempo para fazer as suas necessidades e não encontrando a caixa de areia usou aquele local junto aos dois rolos de entretela. E haja estômago forte para fazer a limpeza. E o entusiasmo para o trabalho voltou em dobro.

E dessa forma o gatinho perdeu todo o seu cartaz com as simpáticas vovozinhas.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 01/05/2013
Reeditado em 03/05/2013
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