Não perco minhas esperanças...

Sou professora, com muita, mas muita honra! A cada dia de minha labuta exaustiva, desgastante mediante tantos problemas, ao invés de me desanimar, procuro algo - um pontinho que seja de alento para continuar (posto que animar-se com meu contra-cheque - inviável). É aí que entram nessa história meus amados (sim, amados!) alunos...

Sempre que os encontro, impreterivelmente sinto-me útil (ouso dizer "importante"), enquanto pessoa, enquanto profissional. Sei que ainda há muito a fazer, aprender, buscando no estudo profundo - e na vida - uma maneira de para eles deixar um legado de altruísmo, cidadania, Educação!

(...)

Numa turma de 3º ano do Ensino Médio em que leciono, por exemplo, encontro jovens com uma competência artística imensa, inegavelmente. Rapazotes e moças humildes socialmente, de uma cidade simples, mas bastante preparados para a arte literária... Eduardo da Silva Costa é um deles. Rapaz de família bem humilde, aluno de escola pública desde que o conheço, ora sem algum professor (de Português ou Literatura não!), ora sem aula por outros motivos, "contudo", detentor de uma capacidade sensorial para a escrita enorme. Lapidando-o, aos poucos, venho "captando dele" textos interessantíssimos, de uma maturidade muito aprazível. Isso, aliado ao fato de vê-lo(s) escrevendo (coisa rara, infelizmente, hoje em dia, nesses "grupos sociais de descolados") tem me deixado profundamente feliz... e realizada. Sim, porque para quem está na realidade pública e particular, acaba por observar tantas realidades paradoxalmente desesperadoras... Costumo ouvir que "bater na mesma tecla" é perda de tempo com essa juventude tecnóloga, adepta ao internetês. Eu, como abomino mesmice, "bato em teclas diversificadas". Pago pra ver: e até agora, não me arrependi do "preço que venho pagando" para, adiante, poder ler bons e/ou tão introspectivos escritos dessa juventude maravilhosa ...

"PALAVRAS DE DENTRO

Certo dia eu tive um sonho...

... nele eu me transportava de um lugar para o outro, através das mais profundas lembranças e de desejos mais profundos ainda. Quando dei por mim estava eu, só, no alto de uma montanha, vendo de perto as nuvens, passando e sentindo o vento tocar meu rosto. Fechei meus olhos, e senti a presença de alguém, mas não os abri. E pensei em perguntar se havia alguém ali, mas não disse. E de forma inesperada uma voz doce, serena e delicada disse que sim, estava ali, mas que só estava enquanto eu estivesse com meus olhos fechados. Senti um arrepio, mas senti que seria melhor manter meus olhos fechados... Aquela bela voz disse suavemente, quase num sussurro, para eu imaginar uma coisa que me fizesse bem... Quando me dei conta estava sentado em uma pedra, na beira da praia, sentido as ondas beijarem sutilmente meus pés. Mas continuava de olhos fechados, tinha medo de descobrir a qual voz eu estava seguindo...

E “ela”, mais uma vez, serenamente, começou a perguntar algumas coisas...

- Ei, você acha que você está feliz? – perguntou-me.

Sem pensar, respondi de imediato: – Sim!

- Errado... – respondeu com ironia – a felicidade não é um estado do espírito, e sim a concepção de que a vida foi feita pra aprender, e aprendendo estamos abertos a compreender os mistérios que carregamos dentro de nós.

Senti outro arrepio. Junto com ele, veio um medo que me levou às montanhas novamente... A voz se aproximava cada vez mais. Então abri meus olhos... Seria errado... Mas eu fiz... Sem medo... E me assustei deveras... Ao abrir meus olhos me deparei com as ondas batendo nas pedras, estava com o sol a se pôr... O brilho do sol refletia nas águas dando um visual deslumbrante. Senti mais uma vez o vento tocando meu rosto. Ao meu lado, próximo da pedra onde eu estava, havia umas flores... Vi muitos colibris, de várias cores, beijando-as... Senti falta daquela linda voz...

Tentei ver se havia alguém por perto, mas não, não havia. À noite foi chegando, fechei meus olhos. Estava ali mesmo, contudo, iluminando a minha volta havia umas tochas feitas de bambu, a areia esculpia, de forma linda, um rosto... E então ouvi a tão esperada voz... Ela me disse que eu tenho momentos de muita insegurança quando se é preciso ouvir a voz do coração. Então descobri que o grande mistério era que a voz vinha de mim, mas que eu tentava ver, ao invés de ouvir e sentir aquilo que me era dito... Aprendi a ouvir a voz que, em segredo, me dizia e me orientava.

E de repente acordei assustado, no meio da noite, com uma sensação estranha, mas boa. Só me vinha na mente aquele rostinho..."

Eduardo Costa – 2 de maio de 2013 - Colégio Estadual Dr. João Nery - Mendes, RJ)

Luzia Avellar
Enviado por Luzia Avellar em 02/05/2013
Reeditado em 02/05/2013
Código do texto: T4270408
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