Poções, campeão baiano de 1999

(Texto publicado no Jornal A Tarde - Salvador, 26/03/2007 - A Tarde Esporte Clube).

O título de campeão baiano de 1999 seria justíssimo ao Esporte Clube Poções. Ficou em terceiro lugar enquanto o Vitória e o Bahia não quiseram disputar a final. Nem sei mesmo se já houve o julgamento. Qualquer que tenha sido a decisão, na minha cabeça, o Poções é o campeão moral daquele ano.

Nesse momento, voltamos ao delírio e às manchetes com o merecido terceiro lugar e pela belíssima campanha que vem realizando. Para um time formado 15 dias antes do campeonato, sem condições financeiras, faz muito mais que esse timeco do Bahia e do inconstante Vitória. Chegaremos lá. Estarei na Fonte Nova para assistir a consagração – ganhar do Bahia!

Mas, vamos voltar ao passado do futebol, ao tempo do glorioso Atlético Poçõense Futebol Clube, de Tonhe Luz, e do menos famoso Bahia de Poções. Uma guerra ferrenha travada nos anos de 67/68.

O Atlético tinha em sua equipe jogadores habilidosos como João Batatinha, Gerson e Davi. Reforçava o time com Fernandinho de Doutor Nena e com outro centro avante de Conquista e as vezes Naldo e Piolho. Não tinha prá ninguém. Eu vejo esse futebolzinho de chutes fortes de Roberto Carlos (só tem isso) fazer sucesso, o que me obriga ainda mais reverenciar o futebol genial de João Batatinha, Gerson e Davi, cracassos do futebol. Sabiam tudo de bola.

Batatinha chegou a treinar no Vitória, mas a saudade de Poções bateu mais forte e ele voltou. Tive ainda o prazer de ver Davi jogar na Fonte Nova, também no Vitória - tinha um chute fortíssimo, inteligente, jogava de cabeça erguida, sabia lançar, marcar e fazer gols. Enfim, fundamentos que fazem um craque de bola e que levaram Davi ao futebol paulista, escrevendo o seu nome no cenário nacional.

O Atlético fazia tanto sucesso que causou a necessidade de ter um adversário. Como Poções revelava craques vindos dos campos da Lagoa Grande, da Rua de Morrinhos e das baixadas das gramas do chafariz e dos canos, foi fácil criar o Bahia do advogado Fidélis Sarno, de Gaso cunhado de Nelson Santana, Arnaldinho, Armando Rolim e outros. Deu testa, fez torcida mas nunca foi melhor que o Atlético.

Começavam, então, as dissidências e mudanças de um time para o outro e as vaias eram constantes. O cara era barrado em um time e já era motivo pra ser transferido para o outro. Rolava pouca grana, mas padrão alto para a época. Era a repetição da competitividade de Vasco e Flamengo de antigamente. Me lembro o dia em que o Bahia ganhou com um gol de Arnaldinho – deu um balão do meio campo e a bola foi parar dentro do gol, enganando Ganapa, o goleiro do Atlético. Festa no campo e nas ruas de Poções – era a forra.

Na verdade, não existia uma disputa de campeonato. Marcavam-se amistosos entre os times da região. Jogos entre Atlético e Bahia eram uma questão moral e as partidas marcadas politicamente, evitando-se a supremacia das equipes, mas o choque de torcidas era inevitável, sem violência.

Uma cena marcante era a hora do gol - Todo mundo invadia o campo com a intenção de tocar a cabeça do jogador. Entrava torcedor pelos quatro cantos. Me lembro que Frazinho Campos carregava o jogador. As laterais do campo sempre eram invadidas durante a partida. Havia um guarda com galhos de cansanção para fazer o pessoal retornar para fora da linha marcada com cal. Ele terminava de passar e o torcedor já invadia outra vez.

Tonhe Luz era um revelador de craques. Tantas vezes acreditou na juventude e não era à toa que os treinos de 5 horas da manhã eram disputados como verdadeiras partidas, tanta era a vontade de mostrar habilidade.

Foram várias as formações do Atlético – o time titular era chamado de primeiro quadro. Tenho uma foto guardada ainda dos primeiros tempos do time: (Se alguém quiser a foto, é só pedir pelo email: luiz.sangiovanni@gmail.com)

Em pé, da esquerda para a direita: Tarcísio, Zozó, Osvaldão, Tonhe Luz, Valter Pires e Du Nápoli;

Agachados: Tinho de Eurípedes, Cesário Magalhães, Miel, João Batatinha e Gerson.

Os torcedores (na mesma direção): João Reis, Humberto Schettini, Rui Cunha (com o picolé na mão), Paulinho de Douca, Valter Brito, Arnaldinho (o do gol do Bahia), Carlinhos “Regaçado” e Toinho Celino.

Resta, então, parabenizar a todos que fizeram a história do nosso futebol. Parabéns a Pedro Sibim por acreditar que tínhamos futuro e a Raimundão, que vai nos ensinar a fórmula de fazer sucesso sem dinheiro. A vocês, atletas, um exemplo de dedicação e superação.

A Tonhe Luz, todo o reconhecimento por ser o “inventor” do futebol poçõense. Sem você, com certeza, Poções não teria a projeção que tem e não sentiríamos tanto orgulho em ver a nossa cidade brilhar.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 26/03/2007
Reeditado em 26/03/2007
Código do texto: T427045