Este texto complementa a crônica “Sete Horas”.
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Exatamente sete horas três pessoas iniciaram sérias e decisivas ações.
 
Jocastro começando a executar um assalto que parecia
tranqüilo.
Paulo tentando salvar a vida de um amigo numa cirurgia arriscada.
André iniciando uma conversa com a noiva que a magoaria demais.
...
 
** _ Oi, André! O que você quer?
_ Oi, Ritinha! Como você está?
_ Estou bem, porém ficaria melhor se você não me ligasse mais!
_ Ritinha, eu soube que você está saindo com outro rapaz.
_ Sim, estou saindo, mas isso não é um problema seu!
_ Eu terminei contigo há duas semanas, você já emendou uma relação!
_ Você preferia que eu ficasse chorando a perda do noivo infiel e traidor?
_ Não, Ritinha! Eu tenho uma novidade.
_ Diga, André! Mas fala rápido, pois tenho o que fazer!
_ Eu acabei minha aventura com Rebeca.
Além disso, estou arrependido de ter terminado contigo.
Acho que joguei a sorte fora...
_ André, essa conversa sua é absurda e inútil!
Claro que eu não quero mais nada contigo!
Além disso, estou saindo com outra pessoa.
Ainda que eu estivesse sozinha, você me fez muito mal, sabia?
Você não acabou só um noivado, você quase destruiu a minha alma!
_ Eu sei, Ritinha! Deixa eu te dizer uma coisa antes de desligar.
_ Vou te dar só mais dois minutinhos!
_ Quando você completou quinze anos, um mês depois de mim...
Você me entregou um poema e leu os versos para mim.
Você dizia que passaria todos os dias de sua existência ao meu lado...
_ André, não tente me comover! Você não vai conseguir!
Eu imaginava  que você era o meu príncipe e que eu seria sua princesa.
Mas você desfez o conto de fadas se revelando o sapo da história!
Resta agora você, com ou sem Rebeca, seguir em frente.
Eu sofri demais o fim do noivado.
Estou superando a grande desilusão do coração.
Não seja egoísta!
Hoje eu quero ser muito feliz sem você.
Estou convicta de que mereço demais recomeçar a vida!”
 
**_ Marta, eu não tive êxito na cirurgia! Ele morreu.
_ Querido, venha para casa! Nesse momento você precisa relaxar.
_ Eu vou, querida! Mas preciso falar contigo algo.
_ Fale, Paulo!
_ Eu nunca te contei o que despertou a minha vocação de médico.
_ Não, a gente nunca conversou sobre isso.
_ Deixa eu te contar o fato agora!
_ Se vai te fazer bem, pode contar, querido!
_ Eu escutava o meu pai explicando o que fazer nas emergências...
Eu tinha quinze anos, conversava com ele sobre primeiros socorros.
Também lia vários livros falando do assunto.
Um dia eu e um amigo estávamos na rua, ele desmaiou.
Eu pedi às pessoas para avisar ao meu pai.
Algum adulto fez a ligação, porém eu precisava esperar.
Lembrei as coisas que li, as orientações do meu pai.
Decidi agir apesar de estar muito assustado.
Verifiquei o pulso e vi que havia respiração.
Deitei o meu amigo na posição lateral de segurança.
Afrouxei as roupas e coloquei a cabeça mais baixa que as pernas.
Essas são recomendações quando alguém está desmaiado.
Dois minutos depois, meu amigo foi despertando.
Pedi que alguém trouxesse algo doce.
Trouxeram uma pasta de amendoim, ele começou a comer com gula.
Quando o meu pai apareceu, nós dois estávamos conversando alegres.
Meu pai me elogiou, eu percebi que seria médico a partir daquele dia.
_ Que história linda, querido!
_ Eu sempre desejei ajudar as pessoas.
_ Eu sei, Paulo!
_ Mas hoje eu não consegui. Marta!
_ Você tentou, querido! Você fez o máximo! Não desanime!
Você se preocupou com a vida do seu amigo quando tinha quinze anos...
Você seguiu a jornada sempre lutando pela vida dos seus pacientes.
Hoje um estimado paciente partiu, mas você acreditou na recuperação.
Você sempre espera a renovação da saúde dos pacientes.
Dessa vez não foi diferente!
Obedecendo à inspiração divina, você nunca deixou de valorizar a vida!”
 
**_ Alô! Dona Ana?
_ Sim, sou eu!
_ Lamento a notícia que vou dar, mas seu filho faleceu.
_ Como?
_ Lamento! Ele tentou assaltar um caixa eletrônico, mas não teve êxito.
_ Meu filho assaltante? Ele estava trabalhando numa entrega!
_ Percebo que a senhora não conhecia os verdadeiros passos dele.
_ Os verdadeiros passos dele? Quem está falando? Isso é um trote?
_ Não, senhora! Eu sou um dos policiais que impediu o assalto.
Cercamos o carro com a quadrilha na estrada e iniciamos um tiroteio.
Eles planejaram a ação imaginando que a fuga seria fácil.
Não sabiam que estavam sendo monitorados o tempo todo.
Durante o tiroteio, pude perceber o seu filho um pouco inseguro...
Parecia que, no fundo, ele não desejava estar ali.
Infelizmente uma das balas o atingiu!
Todos morreram, mas ele ainda estava vivo quando nos aproximamos.
_ Desculpe tantas informações!
Desculpe ligar, mas há um motivo especial!
 
Dona Ana, quase sem voz, disse:
_ Que motivo pode ser especial depois dessa notícia?
_ Ele, antes de morrer, me fez prometer dizer algo para a senhora.
_ O quê? Pode falar, senhor!
Emocionado o policial começou a falar:
_ Ele pegou a minha mão e pediu que eu dissesse o seguinte:
“Me perdoa, mãe!
Peço que a senhora não lastime a sorte do filho assaltante!
Recorde quando eu tinha quinze anos e fiquei muito doente!
Todas as manhãs a senhora me dava um copo de leite.
Depois segurava a minha mão e permanecia ao meu lado sorridente.
Saiba que esses foram os melhores dias da minha vida!”

**

Um abraço!
 
 
Ilmar
Enviado por Ilmar em 04/05/2013
Reeditado em 04/05/2013
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