O fUZUÊ DO CORONEL QUE ESPALHA TERROR

Johnny Bad foi morto com 10 tiros quando saiu do fórum depois da audiência sobre um processo de homicídio. Ele era o réu. Johnny Bad havia assassinado 6 pessoas e respondia também em processos por porte ilegal de armas e formação de quadrilha; a quadrilha Hose, nome do local que dominavam a sudeste da cidade.

Assim que saiu do fórum Johnny Bad e seu bando tomaram dois taxis no ponto em frente. Ele sentou-se na frente ao lado do motorista no primeiro automóvel com três outros comparsas atrás. Mal havia fechado a porta um automóvel preto com três homens armados fechou o taxi de Johnny Bad. Dois deles saíram do automóvel e dispararam 20 tiros; 10 atingiram Johnny Bad. Morte instantânea; o bandido não pôde sequer reagir.

Os assassinos do assassino Johnny Bad entraram rapidamente de volta no automóvel preto e quando iniciaram a fuga foram interceptados por uma patrulha da polícia que passava pelo local e, sem intimidarem-se atiraram contra os policiais e conseguiram fugir. Era gente do bando do Litle Coconut, uma quadrilha rival.

Um dos homens de Johnny Bad atingido na barriga e o motorista do taxi por um tiro de raspão no braço foram socorridos pela patrulha policial e levados para um hospital.

A quadrilha Hose disputa com a quadrilha Litle Coconut maior espaço em um bairro da cidade de Fortress. Agora, porém, sem seu líder, com a morte de Johnny Bad, a guerra entre as duas gangues será ainda mais sangrenta e cruel. Haverá vingança.

Essas gangues, entretanto, não dominam cassinos, boates, fabricas clandestinas de whiskey e a prostituição. Também não são de “gangsters” americanos nem de mafiosos imigrantes italianos do Bronx, famoso bairro de Nova York.

Essa história também não aconteceu nas décadas de 1930/1940, nem é do filme Os Intocáveis. Johnny Bad não é da época de John Dillinger, Baby Face Nelson ou da loira atraente Bonnie Parker e de Clyde Barrow, namorado dela.

Essa história aconteceu na tarde de 19 de abril de 2013 na saída do Fórum Clovis Beviláqua, em Fortaleza, Ceará, Brasil. Johnny Bad é Francileudo Ferreira Lima de 26 anos de idade, líder da quadrilha Mangueira, rival da Coqueirinho, do Conjunto São Miguel do bairro Messejana em Fortaleza. Cidade com 2,5 milhões de habitantes e 419 favelas. Todas horizontais, planas, sem nenhuma ladeira sequer, circundando a cidade em formato de ferradura, aprisionando a Cidade da Luz, a Desposada do Sol a beira do mar.

Essas duas gangues brigam e matam-se entre si por “pontos” de cocaína, no Conjunto São Miguel. Outras também fazem isso quando estiver em disputa uma área, um bairro ou mesmo uma região inteira; matam um adversário bandido. Mesmo que esteja sendo julgado no fórum da cidade.

A polícia ainda não prendeu os assassinos do bandido Francileudo, líder da quadrilha Mangueira, mas “suspeita” que “seriam” da quadrilha Coqueirinho. Assim mesmo: suspeitam apenas e, cuidadosamente, atribuem o crime a alguém da quadrilha inimiga no condicional. Nada é certeza.

Sei que para a justiça só é culpado quem foi julgado e condenado. Até que isso aconteça são “suspeitos”, ”supostos” e crime “teria” acontecido, “teria” sido cometido. Mas o fato aconteceu. Não há sujeito oculto e o verbo está no passado. O bandido Francileudo foi assassinado.

Não defendo o bandido morto e o ferido - há quem diga: “menos um”! e torce para que o outro ferido no hospital morra logo. Estou assustado.

Todavia nem todas as pessoas estão assustadas em todo o Brasil; ou indignadas, apavoradas, em pânico ou simplesmente inseguras com a violência urbana. Há os que dizem: “fazer o que?”e tocam suas vidas mesmo que postas em risco permanente.

Dois dias depois desse assassinato de bandido na porta do Fórum, na dita bela e certamente famosa Praia do Futuro, à noite, um motorista de ônibus foi alvejado com um tiro no olho durante um “assalto relâmpago”; ele está abeira da morte no hospital. Os dois bandidos chamados de “suspeitos” de acordo com a moda da imprensa brasilina foram “apreendido”, segundo a lei. Um tem 12 e o outro 13 anos de idade; menores, adolescentes, protegidos pelo Código da Criança e do Adolescente não podem ser presos, só apreendidos; para serem soltos algumas horas depois.

Não creio que a pena de morte para criminosos acabe com a estupidez humana. Não creio igualmente que aprisionar, suprimir a liberdade, sirva para ressocializar o criminoso. Também não creio que diminuir a idade penal acabe com bandidos crianças. Não tenho a solução; quisera ter!

O governador do Ceará que suponho manda no alcaide de Fortaleza (digo que “suponho”, que “suspeito”, seguindo a teoria da falta de provas; do ainda não foi transitado em julgado) preocupado em proteger o prefeito, mandou que a Polícia Militar fizesse a segurança dele (que é uma das atribuições da Guarda Municipal) o que gerou polêmica entre a população e protestos de vários setores da sociedade já que mais de uma dezena de policiais sairão das ruas para essa tarefa, diminuindo ainda mais o patrulhamento ostensivo.

Mas toda essa questão da falta de segurança nessa cidade, assunto que me faz tratar com os dois acontecimentos que narrei acima, que não é pontual e sim nacional, está na ausência de competência e capacidade dos órgãos públicos encarregados de proteger a população. E de vontade política; um tipo de coisa que não se refere à capacidade, e não é sentimento. É necessidade emotiva e física como vontade de comer, de brincar de ir ao banheiro...

E a sociedade protesta pelos meios que hoje são disponíveis, as chamadas redes sociais, que, nesse caso não resolvem o grave problema.

“Não sei por que desse fuzuê sem sentido. Não podemos expor a autoridade (...) além de que o terror está espalhado hoje.” Foi a resposta do coronel Joel Brasil, chefe da Casa Militar do Governo do Ceará. Além de dar botinaços na sintaxe (me lembra uma senhora que já foi estudanta, adolescenta e militanta...) ainda chama de “fuzuê” – que tanto pode significar barulho, motim ou reunião festiva com música, dança, comes e bebes – o que é legítimo protesto da sociedade sob ameaça e, ela sim exposta aos assaltos de bandidos de todas as idades. E admite sem se dar contas, suponho, que a proteção ao prefeito deve-se ao fato de que “o terror está espalhado hoje.” Não sei se disse isso continente à moderação das palavras ou por incontinência verbal. Será que o coronel comandante confunde terror com terrorismo? Sim, terroristas espalham o terror com suas ações político religiosas. A bandidagem também. Porém os motivos são outros.

Terror é estado de pavor, medo intenso; sentimento, estado emocional. Com essa declaração o coronel ajuda a espalhar o terror.

Enquanto escrevo, já é noite, 10 assassinatos foram cometidos hoje em Fortaleza; a madrugada promete mais. A média de 2012 foi de 12 mortes por dia e o primeiro trimestre desse ano já aumentou esse índice pavoroso. Essa sociedade ameaçada não tem a quem pedir socorro quando os responsáveis pela segurança pública revelam-se incapazes. É verdade “o terror está espalhado hoje” e também pode atingir coronéis como já atinge soldados.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 04/05/2013
Reeditado em 04/05/2013
Código do texto: T4273360
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