Orgulho animal

Somos animais que se gabam de uma pretensa racionalidade, mas ainda assim somos animais. Instintivos, orgulhosos, selvagens, perigosos e burros como uma porta.

Sempre pensei que essa tendência que temos de repetir padrões, de insistir em erros ou o medo de correr riscos com tudo que é novo ou diferente, fossem frutos de um medo e comodismo inerente à nossa espécie, mas hoje, do alto dos meus poucos 34 anos, posso dizer que – para mim – o motivo é outro.

Como leões que precisam provar que são os mais valentes e fortes ou como pavões que se exibem com sua plumagem multicolorida, temos que provar nossa supremacia, mostrar que somos capazes de dobrar uma pessoa ou uma situação à nossa vontade e desejo.

Ele não presta? É um cara gato, rico e divertido, mas completamente mau caráter? Não importa, eu vou muda-lo. Meu emprego está um saco, adoro reclamar, mas não tenho coragem de mudar ou tomar uma atitude? Não importa, vou mostrar que ele não pode me mudar, que sou mais forte, mesmo que eu acabe sendo demitido.

Orgulho cego, instinto primitivo, imperativo genético... Por que me envolver com aquela menina simpática e linda que me quer? Pra que se não terei que provar nada já que está vencido esse embate? Qual a graça de seguir em frente? Vou atrás daquela que só me espezinha e mostrar que posso domá-la.

Acho que tudo seria melhor se olhássemos para dentro de nós mesmo e enfrentássemos o que vive ali. Domar esse ímpeto caçador, essa gana de sempre superar aos outros, de mostrar que somos melhores e então, vencer a nós mesmos.

Creio que o nosso maior desafio seja o de nos domar a partir da aceitação de como somos e tentar então, melhorar. Somos seres tarados por desafios, por conquistas, por duelos e isso não é de todo ruim, mas o problema é quando isso nos domina totalmente e nos leva a repetir uma rotina que só nos traz tristeza e frustrações.

Sejamos racionais como clamamos ser e domemos toda essa força, esse ímpeto e o direcionemos para algo mais produtivo. Usemos ele para nos dar a força necessária para quebrar padrões, enxergar além do que nos foi incutido desde a infância, nos guiar em uma busca pela auto superação e não pela superação do outro.

Força para mergulharmos no inesperado e aceitar que coisas boas podem ser simplesmente oferecidas a nós, sem que precisemos toma-las ou conquista-las. Apenas, zelar por elas e mantê-las seguras e a salvo.

Somos animais desde que nascemos e vamos sê-los até morrer, mas não precisamos ser sempre o mesmo tipo de animal. Podemos melhorar, podemos evoluir e podemos nos livrar dessa sina primitiva que nos impomos cegamente.

E ai talvez, quando conseguirmos isso, poderemos realmente nos orgulhar de termos dobrado à nossa vontade, o nosso maior adversário: Nós mesmos.