A liberdade de não ter escolha

Depois de décadas sendo obrigados a ouvir Chico Buarque, Milton Nascimento, Ivan Lins, Caetano, Vinicius, Jobim e outros tantos, finalmente nos livramos de ter que pensar e sentir, finalmente nos é permitido emburrecer ao som de funks que "elevam" a mulher à condição de cachorra, safada e afins. Finalmente nos presentearam com dezenas de MCs, Rolha, bolha e outros codinomes geniais. E graças ao bom Deus a gente conta com a generosidade de um Faustão, uma Regina Casé e um Luciano Hulk para espalhar aos quatro ventos tanta variada verve de músicas e letras, fantásticas, renovadas. A grande diferença é que antes, havia a possibilidade de escolha, podia-se, democráticamente escolher entre o bom e o ruim, havia um certo equilíbrio. Hoje não, hoje, graças à nossa mídia super preocupada em nos presentear com a poética do funk, parece que exilaram os Chicos, Miltons e cia e seus indesejáveis adeptos. Que aqui ninguém nos ouça mas eu, curioso que sou, escuto escondido as músicas ruins desses caras. Não sei como alguém pode gostar de algo que diz: " Vou te contar, meus olhos já não podem ver coisas que só o coração pode entender...."Entendi nada. Muito melhor é " cachorra, safada, desce aqui, até o chão, rebola aqui na minha mão". Caraca, muito mais emocionante. Obrigado pela liberdade de não ter escolha.