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TEMPOS DE OURO


Já fui bem menos saudosista do que sou hoje, mas do jeito que as situações estão se apresentando, o meu saudosismo aumentou muito. E isso não se deve ao avanço da idade, que até pode influir um pouco, mas não é o fator preponderante.
 
O canal fechado Viva está reprisando a minissérie Anos Dourados, exibida originalmente em 1986 pela Rede Globo. Escrita por Gilberto Braga e com direção de Roberto Talma, é ambientada no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, no final da década de 1950. É uma história onde desfilam vários amores – alguns impossíveis – sendo o de maior destaque o vivido pelos jovens Marcos (Felipe Camargo) e Lurdinha (Malu Mader). A minissérie também mostra o perfil do momento político, histórico e cultural (riquíssimo) daquele período. E ainda tem a trilha sonora, que é brilhante, com canções como When I Fall in Love – Nat King Cole, Por causa de você – Dolores Duran, I Apologise – Billy Eckstine, Alguém como tu – Dick Farney, Smoke Gets in Your Eyes – Dinah Washington, entre outras. São doze faixas belíssimas, fechando com a canção tema, de Tom Jobim.
 
Na minissérie é possível visualizar e sentir o clima lúdico que havia naqueles tempos de ouro. Nas escolas, nas ruas, nos bailes e nas próprias residências, o ambiente era de um respeito constante. Nas escolas, o professor era visto como autoridade máxima e, por vezes, reverenciado como tal. Os bailes, com as belas músicas de então e aquele gostoso dançar “com seu corpo coladinho ao meu”, como diz a canção. Se for ficar aqui lembrando de todos os exemplos daqueles tempos, o texto vai longe, muito longe. E essa não é minha intenção. Mas acredito que estes dois exemplos que citei expliquem a minha ideia como um todo.
 
Está certo que nem tudo eram flores e frutos, como por exemplo, o relacionamento entre pais e filhos, um tanto distante, por vezes confundido com falta de amor. Hoje, porém, eu entendo que nossos pais foram educados para agir daquele jeito e acredito até que a postura adotada por eles chegava a doer dentro do peito. Mas era assim, e havia mesmo certo distanciamento e comigo não foi diferente. Era raro a mãe que conversava com a filha sobre gravidez e assuntos sexuais, inclusive a menstruação, e muitas meninas menos avisadas pensavam estar à beira de uma doença gravíssima quando chegava pela primeira vez. O pai, por sua vez, mantinha aquela postura ereta de patriarca da família, chegando a ter até lugar de honra na mesa de refeições.

Se partir para a conclusão deste texto pelo caminho das comparações entre épocas, vou cair no lugar comum. Então, prefiro não me aventurar pelos tempos modernos, de tanta mediocridade, de tanta bandalheira, de tanto desrespeito pelos docentes e pelo próximo, de tanta falta de educação e gentileza, além de tanta desfaçatez na política, verdadeira canalhice.
 
Então, eu quero apenas relembrar, pois ter memória é poder encontrar um raro ponto de luz nessa escuridão que atualmente nos domina, pois como dizia Coelho Neto “a saudade é a memória do coração”.
 
 
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