PERFUMES
 
 
[...] o perfume vive no tempo; tem sua juventude,
a sua maturidade e a sua velhice.
E somente quando nas três diferentes idades
o seu aroma é igualmente agradável,
ele pode ser considerado realizado. [...]

 
[...] Esse aroma tinha frescor;
mas não o frescor das limas ou das laranjas,
não o frescor da mirra ou das folhas de canela ou hortelã
ou da bétula ou da cânfora ou das agulhas de pinheiro,
nem da chuva de maio ou do vento da geada ou da água da fonte...
E ao mesmo tempo tinha calor;
mas não como lenha de roseira e nem como íris...
Esse cheiro era uma mistura de ambos,
do fugaz e do pesado, não uma mistura,
mas uma unidade e, além disso, restrita e fraca e,
ainda assim, sólida e fundamental,
como um pano de fina seda cintilante...
E, de novo, também não como a seda,
mas como o leite doce feito mel em que o biscoito se dissolve   ̶  o que,
afinal, mesmo com a melhor das vontades,
não se conjugava: leite e seda! [...]

 
(O Perfume, Patrick Sunkind)
 
 
O olfato é um sentido que se destaca entre os outros, pois aguça a imaginação, a percepção de pessoas, coisas, ambientes - e do tempo - através dos cheiros peculiares (agradáveis ou não). Os diversos aromas inspirados, suavemente, invadem nossas narinas, atingem as papilas olfativas e dominam nossas almas, com as sensações do universo que nos envolve. O perfume que respiramos é a constatação mais perfeita da vida.
 
Desde a mais tenra infância, os cheiros nos rodeiam e remetem a lembranças através de um canal de comunicação mais rápido e eficiente. O aroma das flores, da madeira das árvores, do musgo, das plantas ornamentais, das folhas secas, das frutas maduras, do sal do mar, das algas marinhas, dos animais, do sangue, do suor, do homem, da mulher, do sexo; tudo que existe na natureza exala perfume e transpira vida (em suas várias formas de manifestação).
 
Afirmo que os momentos da história individual de cada ser têm seu perfume especial. Qual de nós nunca associou algo ao cheiro do bolinho da vovó, da comida da mamãe, do carro novo, da casa pintada, do primeiro encontro com a pessoa amada, do sexo realizado com ela, do nascimento do filho, da mãe amamentando, da morte de um ente querido? O cheiro da chuva, do campo, do mar, do banho tomado, do casamento, do vestibular, das flores fúnebres, das festas e confraternizações, do Natal, Ano Novo, São João, das mães, dos pais, dos amigos, da pele, da boca, do cabelo, do olhar. Tudo é armazenado no frasco da memória, e não se compra por valor algum.
 
Do cheiro que podemos comprar, sei que a fértil imaginação, o talento e a perspicácia do perfumista - através da fusão dos aromas das flores (rosas, jasmins, margaridas, carmesins), madeira, musgos, frutas (laranja, limão, melão, melancia, bergamota), especiarias como o cravo e a canela, âmbar, almíscar, couro, camuça e compostos sintéticos -, todos concentrados nos óleos essenciais produzidos, proporcionam a construção de verdadeiras obras-primas da perfumaria. Os perfumes inebriam nosso espírito com fragrâncias que fornecem as mais variadas sensações ao reagir com a pele
(do prazer a repulsa) .
 
Destaco que a indústria cosmética (da perfumaria) encontrou o ouro na captação dos cheiros, trabalho esse realizado há milênios, mas que ganhou força e divulgação na França há poucos séculos. Charme, elegância, jovialidade, segurança, sensibilidade, vigor, credibilidade, encanto, personalidade: estes são os objetivos das construções perfumísticas atuais. Isso chega ao consumidor através das campanhas milionárias de divulgação dos produtos, do cinema e da literatura pertinente. Para mim, o perfume é um mal necessário que encanta nossos narizes e empobrece nossos bolsos.
 
Logo, nesta vida sinestésica, o olfato é um instrumento de manutenção da alma do poeta - que possibilita a percepção dos mais suaves aos mais agressivos perfumes da existência humana -, inspirando a transcrição de palavras e sentimentos, que através da prosa ou versos serão cravados e eternizados no papel. Os perfumes, artificiais ou naturais (pessoas, coisas ou lugares), são joias que enriquecem e aformoseiam a vida, dando um toque especial ao mais delicado dos sentidos humanos.
 
 
NOTA AO LEITOR:
 
Um passado próximo, de extrema ansiedade e consumismo exacerbado, deixou-me uma lição de controle financeiro em meio a algumas dívidas desnecessárias. Todavia, felizmente, através disso recebi uma valiosa herança de perfumes, que inebriam minha vida e fazem parte da composição estética (olfativa) do meu dia-a-dia. A namorada, a família e os amigos agradecem; afinal, com esse adorno de cheiros, minha presença sempre é agradável. Ainda bem, a consciência do autor se conforta e justifica as faturas do cartão de crédito com isso. O pequeno tesouro adquirido é composto destes incríveis perfumes, todos masculinos, que compartilho a lista e sugiro aos leitores:
 
Amadeirados
He Wood Rock Mountain (D´Squared) e Tsar (Van Cliff & Arpels).
 
Frutal-aromáticos
Acqua di Gío (Armani), Polo Blue (Ralf Lauren) e Aqva (Bvlgari).
 
Cítricos
Dior Homme Sport (Dior), Light & Blue (Dolce e Gabanna), Versace Man Eua Fraiche (Versace), Lanvin L´Homme Sport (Lanvin) e Guerlain Homme L`Eau (Guerlain).
 
Cítrico-especiarados:
Solo (Loewe), White (Lalique), F by Ferragamo (Salvatori Ferragamo) e Allure Homme Sport (Chanel), Terre d`Hermès (Hermès).
 
Gourmands (adocicados)
Le Male (Jean Paul Gaultier), La Nuit di L`Homme (Yves Saint Laurent), Individuel (Mont Blanc), Antidote (Van Cliff & Arpels), Allure Edition Blanche (Chanel), Chic For Man (Carolina Herreira) e Hypnose (Lancôme).

Os adocicados possuem maior fixação em virtude dos seus materiais de composição, menos voláteis.

 
Florais
L`Eau d`Issey Pour Homme (Yssey Miyak), Declaration (Cartier), Fahrenheit (Dior) e For Him (Narciso Rodriguez).
 
OBS:


Aconselho o uso dos cítricos e frutal-aromáticos durante dias e noites quentes (em cidades com muito calor são perfeitos); dos amadeirados em dias chuvosos ou amenos; os florais podem ser usados em dias e noites quentes, mas com moderação, deve-se dar preferência em dias amenos; gourmands (adocicados) sugiro o uso à noite ou dias chuvosos, e em mínimas quantidades, no calor; os cítrico-especiarados são os mais versáteis, podendo ser utilizados em quaiquer situações e tempo (nunca em exagero).
 
A maioria dos perfumes que indiquei possui similar ou contratipo; uma opção para quem não quer gastar tanto, uma vez que os encargos tributários aumentam consideravelmente seus valores aqui no Brasil, deixando-os inacessíveis para a maior parte da população.

Por oportuno, destaco que empresas nacionais como Natura, O Boticário, Avon e Água de Cheiro também comercializam bons produtos – alguns até com fragrâncias inspiradas nos importados  ̶ , embora a maioria seja deocolônia. Nesses a concentração de óleos essenciais é menor, com mais álcool, o que justifica serem muito voláteis, perdendo o cheiro mais fácil.
 
Uma dica que dou é borrifarem o perfume diretamente na pele (nos pulsos, pescoço e orelhas, preferencialmente), esses locais fixam por mais tempo. Quando mistura-se na mão, há reações químicas e podem perder um pouco do aroma original.


Como os olfatos são variáveis, cada pessoa deve experimentar e verificar o perfume que mais lhe agrada, independentemente dos conceitos existentes. O importante é se sentir bem.

Excesso de perfume pode dar náuseas e dores de cabeça, principalmente os doces e fortemente amadeirados, é deselegante e pode incomodar em ambientes fechados, como no trabalho.

Deixo claro que isso não é a opinião de um especialista, e sim de um curioso; um usuário e leitor contumaz de perfumes das mais variadas fragrâncias e marcas há anos.


(Imagem: Internet)
Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 11/05/2013
Reeditado em 13/05/2013
Código do texto: T4285728
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