Dia dos Filhos

Segundo domingo de maio; não é a nós, mães, a devida homenagem. É a vocês, filhos. Em primeiro lugar, porque só somos mães por sua causa. E é por sua causa que aprendemos diariamente tantas lições quantas há a possibilidade de aprender, nesse mundo de trocas infinitas que é a maternidade e a relação com esses entes que são parte de nós.

Com quem mais aprenderíamos a ser humildes por saber que, ao mesmo tempo em que temos o poder maior de dar a vida, não somos donas de nenhuma delas? Cultivamos o desprendimento de ter que soltar as crias para o mundo, pois é para o mundo que de fato as criamos. Aprendemos o desapego e quem não o aprende vai aprender, de fato, a sofrer.

Aprendemos com vocês, filhos, a amar sem nenhuma troca. Possuímos o dom do amor incondicional, que de outra forma deveria ser construído em bases racionais, mas desde que um dia algo cresceu em nosso ventre, esse amor também cresceu em nossos corações para jamais ser esquecido ou minimizado.

Aprendemos a trocar fraldas, a fazer papas, a curar dores do corpo e da alma, a dizer não, a acalmar aflições e ouvir. Aprendemos a ser cozinheiras, enfermeiras, psicólogas, pedagogas, sem que tenhamos que fazer nenhum curso. Um aprendizado natural, gratuito e suave.

Aprendemos que a proteção deve fazer parte do treino para a vida, mas que a vida fora do útero é cruel e espinhosa; não temos o poder de mitigá-la, apenas de dar o colo quando estes espinhos ferirem de fato. E, assim, aprendemos a superar as dores, desde as mais superficiais até as mais viscerais, vendo o sofrimento de certa forma pedagógico, na maioria das vezes inevitável, de quem em tese deveríamos proteger.

E por nos tornarem, assim, humanas até o limite do possível e ainda seres melhores a cada dia, é que questiono este dia dedicado às mães. Ele deveria ser dedicado aos filhos, o predicado que nos torna verbos; e é para vocês, filhos - meus e de todas as mães, biológicas ou não - que dou os parabéns.

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Publicado no livro Abelhas sem Teto e Outras Crônicas - 2010