Um cálice de vinho
           
Algumas entidades culturais de Porto Alegre costumam oferecer palestras abertas ao público. Não sinto inveja do trabalho de médicos, mas, quando tomo conhecimento de que o palestrante é um famoso, estou lá. Uma das palestras que assisti, para minha surpresa, era direcionada a pessoas de terceira idade. O assunto principal foi sobre a bebida mais charmosa de todas - o vinho.
O palestrante destacou a importância de ingerir-se um cálice de vinho tinto ao dia, isto para adultos maduros, com uso moderado – até 100 ml, porém, sem receita médica. Para ilustrar sua fala, fez breve histórico sobre a bebida. Chamou atenção da plateia, dizendo que na antiguidade, o vinho teve um papel importante na evolução da medicina. Os papiros do Egito antigo traziam receitas baseadas em vinho. O grego Hipócrates, pai da medicina, “cerca de 450 a.C.”, recomendava o vinho como desinfetante e parte de uma dieta saudável. No século II d.C., Galeno, famoso médico da Roma antiga, empregava o vinho na cura de feridas dos gladiadores. Lembrei-me de que no Século XI, na Universidade de Salermo (Itália), a importância do vinho sobre a dieta foi codificada. O uso medicinal do vinho continuou por toda a Idade Média e, até o século XIII, de acordo com a lenda de Heidelberg, na Alemanha, era mais seguro beber vinho do que água. A curiosidade brilhou nos olhos da plateia e o médico retrocedeu para explicar a origem do vinho. Perguntou se alguém lembrava da história, então eu complementei, dizendo que os gregos associaram a figura do vinho a um Deus. Informei que Dionísio, filho de Zeus, era o Deus do vinho. Comentei que, na entrada da caverna, onde ele viveu, havia uma vinha. Dionísio era ainda adolescente, quando espremeu os cachos de uva maduros e bebeu. O jovem ficou impregnado de grande alegria ao perceber que o líquido espantava a fadiga, alegrava e fazia desaparecer os problemas. Neste momento foi inventado o vinho. A euforia foi tanta que Dionísio saiu pelo mundo ensinando a cultura da vinha e a arte de preparar o vinho.Continuei falando sobre história, pois a chamada bebida dos deuses estava presente nas cerimônias religiosas. Embora o vinho tenha sido produzido por Brás Cubas no ano de 1551, em São Paulo, foram os colonos italianos extremamente religiosos que trouxeram para o Brasil, não só a sua fé, mas a preciosa arte de fazer o vinho. O carismático médico prosseguiu, explicando o misterio de dois elementos contidos no vinho tinto – o resveratrol e os flavonóides. Informou que o resveratrol elimina as plaquetas que provocam coágulos e entopem as arterias; os flavonóides são antioxidantes, inibem a formação de radicais livres que deixam o organismo mais vulnerável a patologias. Afirmou que o importante no vinho tinto  é a presença dos elementos acima e não a do álcool. Alguém lembrou da celebração que os amigos fazem, quando erguem uma taça de vinho, dizendo: ‘ a saúde!’ Perguntei: “e as pessoas proibidas pelos médicos de ingerir bebida alcoólica devido a alguma patologia? E a Lei de Tolerância Zero?” Foi aquele alvoroço na sala. Pensei no jeitinho brasileiro, no bom sentido, é claro; e busquei alternativas.  Se o importante no vinho é a uva e não o álcool, porque não beber o suco de uva? Acredito que a alegria não seja a mesma, mas o efeito medicinal deve ser idêntico. O médico concordou comigo e teceu um comentário a respeito disso.Diz-se que ‘o vinho bom alegra o coração do homem’. Que tal intertextualizar:
– O suco de uva bom alegra o coração do homem, também. Manifestaram-se escritores e poetas, destacando a ligação fantástica entre vinho e literatura. Eles referiram-se ao vinho com os adjetivos mais delicados possíveis – aroma penetrante, sabor frutado, cor cristalina, gosto aveludado.
No Rio Grande do Sul, a literatura e o vinho encontraram uma forma especial de convivência, através do Concurso Nacional de Poesias sobre o Vinho, promovido pela Universidade de Caxias do Sul. A maior poesia está nas cantinas da Serra Gaúcha, como as de Bento Gonçalves, de Caxias do Sul, de Garibaldi, de Flores da Cunha, entre outras. É lá que os poetas preparam a fonte de inspiração para que outros escrevam. Mário Quintana diz em um dos seus poemas:
“Mudaste muitas vezes de pensamento, mas nunca de teu vinho predileto.”
Vamos levantar a taça?
A saúde do vinho gaúcho! 
  
                                                                                                
 
 


Izabel Camargo
Enviado por Izabel Camargo em 12/05/2013
Reeditado em 18/05/2013
Código do texto: T4286951
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.