Uma sociedade hipócrita.

UMA SOCIEDADE HIPÓCRITA

Jorge Linhaça

Vivemos numa sociedade onde escândalos de corrupção são uma constante em todos os setores:

Política, polícia, educação, saúde, religião, transportes e etc.

Vejo grupos de pessoas gritarem a plenos pulmões contra fulano ou sicrano quando se trata de desvios de dinheiro público. O que deve mesmo ser feito.

No entanto muitos desses gritadores de plantão não hesitam em molhar a mão de alguém para livrar a sua cara, não se furtam a usar estratagemas para burlar a receita federal, procuram sempre alguém que possa agilizar um processou ou serviço na base da camaradagem, sem pensar que acelerar seu processo ou serviço, significa deixar para trás outros tantos.

Corrupção não é apenas questão financeira, é também uma questão moral, social e familiar.

Um pai ou mãe que permite que seus filhos menores de idade consumam bebidas alcóolicas dentro de casa como se isso fosse normal, depois não podem abrir a boca para reclamar dos filhos chegarem bêbados em casa ou alegar inocência quando algum deles cometer um homicídio culposo ou doloso motivado pela bebida.

Um pai ou mãe que costuma “dar um tapa” na erva não tem como reclamar se seus filhos seguirem o mesmo caminho ou pior.

Pais que não tem tempo para os filhos, não podem se isentar da responsabilidade dos caminhos tortuosos escolhidos por estes.

Uma pergunta: De que adianta uma rede de televisão promover debates sobre o consumo de álcool por crianças e adolescentes se a sua grade de programas está repleta de apologias ao uso de bebidas, seja nas novelas, nos filmes ou nas músicas promovidas pela emissora?

A música (?) atual é de um absurdo assustador, as letras no mais das vezes falam de bebedeira e sexo fácil, como se isso fosse a maior das realizações que alguém possa ter na vida. Pior, os pais acham lindo quando os filhos de tenra idade imitam os gestos obscenos dos cantores da moda , chegando a postar isso em vídeos na internet.

Estamos corrompendo ou deixando que corrompam nosso filhos a cada dia, sem nos darmos conta disso, ou fingindo não perceber o que fazemos.

A apologia ao uso de bebidas alcóolicas é tamanha que arenas de futebol e de shows recebem os nomes de grandes produtores do produto.

A apologia ao sexo inconsequente está criando uma geração de jovens que não consegue assumir a responsabilidade por seus atos, e não encontra limites para a satisfação de seus desejos. Estupros á base de “boa noite cinderela” ou sob o efeito de drogas e bebidas são mais comuns do que se imagina, embora a grande maioria das vítimas evite relatar o ocorrido.

Não vamos nem falar dosa abortos e outras consequências funestas.

A apologia da vida irresponsável, do adultério, da formicação, do uso de drogas, é feita a cada instante e a sociedade finge não ver. No entanto, na hora de apontar para os outros como responsáveis por tudo de mal que ocorre, todos se tornam santos da noite para o dia.

Se contribuirmos para a formação de uma sociedade de irresponsáveis, não podemos reclamar das más escolhas feitas nas urnas. Estamos caminhando rapidamente para aquele momento em que, por conta de nossa hipocrisia e omissão, as próximas gerações nada terão a nos oferecer senão o que de pior possa existir, teremos políticos piores que os de hoje, eleitos por pessoas sem nenhum sentimento de ética ou moralidade, preocupadas apenas com suas baladas e orgias.

Não existe diferença entre desviar milhões de reais de um estádio de futebol ou qualquer outra obra e pagar propina para não ser multado. O princípio é o mesmo. A “espertalhice” é a mesma.

Não existe diferença entre as falsas promessas de campanha e aquelas promessas falsas que fazemos em busca de alcançar algum proveito próprio.

Uma meia verdade não é mais do que uma mentira completa.

Quando mentimos para nós mesmos então...

Salvador, 15 de maio de 2013.