Um belo assalto

Um belo assalto

A mulher gorda e vermelha gritou: “Um assalto!” ela era enorme. Troncuda mesmo. Parecia uma dessas campeãs olímpicas de arremesso de peso dos tempos da antiga União Soviética. Seria uma boxeadora? Não era assalto da luta de boxe. Também não estávamos num ringue. Era uma feira livre num bairro residencial duma cidade que muito bem poderia ser a sua ou a minha. Que assalto foi esse? Ela gritava: “Um assalto!” E eu tentava escrever. E ela gritava de seus possantes pulmões de soprano lírica. Num instante o espetáculo que vou contar aconteceu.

Imediatamente após o grito da nossa robusta personagem, a feira toda se pôs em polvorosa. Era gente formando coro de desesperados enquanto outros pulavam e abriam os braços dramáticos. E como corriam e como davam trombadas e como aproveitavam alguns para comer. Havia poças vermelhas enchendo o chão. Balas para todo o lado e crianças caindo de joelhos. Um pandemônio!

A polícia chegou e foi derrubada pelo povo em disparada. Um caminhão cercou a saída da rua depois da derrapagem. O motorista atendera ao chamado do seu amigo caminhoneiro lá do outro lado do país por rádio depois de receber um torpedo avisando sobre o assalto. Esse amigo era também twiteiro inveterado. No afã de atender seu colega caminhoneiro, o veículo ficou desgovernado. Devido à batida, um hidrante quebrou e esguichou água pra todo lado. Os bombeiros foram chamados. Helicópteros sobrevoavam a área. O noticiário internacional já fazia a cobertura. Os correspondentes se acotovelavam afoitos por apurar os fatos.

Nesse instante, nossa amiga rechonchuda já estava sentada na cadeira do salão de beleza onde assistia confortável à TV de última geração noticiar o terrível assalto na cidade. Ela ficou apavorada ao constatar que estivera momentos antes no local e se livrara de tudo aquilo.

A cabeleireira de secador em punho comenta: “Viu, amiga? Se você demorasse um pouco mais na feira, talvez fosse mais uma das vítimas. Fiquei muito triste quando você disse pelo celular que o preço do corte de cabelo era uma assalto. E essa gente toda o que deveria ter gritado, então!?”

(São Gonçalo, 13 de maio de 2013 (num exercício com alunos da turma PAEF M1 do Colégio Estadual Ismael Branco – Bairro do Mutuá, São Gonçalo – RJ).

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 15/05/2013
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