TODO CASTIGO PARA BARRIGA BRANCA É POUCO

Aqui no Ceará chamamos Barriga Branca os homens que são mandados pela mulher, que não é o meu caso. Não porque não obedeço à patroa, mas como sou negro e não sou um pinguim, no máximo poderiam me chamar de Barriga Bege. Recomendo a todos os homens casados que obedeçam às suas respectivas esposas. Não existe nada melhor. Não há estresse. Nunca se ouvirá initerruptamente por vinte quatro horas aquela cantoria chata quando algo dá errado “eu não disse, eu não disse...”.

Mas... como sempre tem a p... de um “mas”, há três dias que sofro que nem um condenado. Por que não existe a Lei Zé da Penha? Acho que algum Deputado tentou fazer um projeto de lei nesse sentido, mas a mulher dele o proibiu. Que merda! Agora estou eu aqui, sofrendo mais que torcedor do Palmeiras.

Foi assim: minha mulher pediu que fosse com ela à dermatologista. “Claro!” Respondi. E haveria de dizer outra coisa? “Vou aproveitar e marcar uma consulta para você também”. Não sei pra quê, mas “Claro!” foi a minha imbecil resposta. “Doutora veja esses sinais que ele tem no rosto”. Esse foi o inicio do meu sofrimento. “Vamos ter que tirá-los todos” respondeu a doutora em conluio macabro corporativista para me lascar. Tentei convencer a minha esposa que não era necessário. Citei Morgan Freeman, um galã de Hollywood cheio de sinaizinhos no rosto, ela disse que preferia Denzel Washington. A coisa ficou preta, não teve jeito. Marcamos o dia. Seriam vinte e cinco sinais de uma vez só. A doutora pistoleira começou a tortura. Permita-me um parêntese: pistoleira porque usava uma pistola. Pistoleira por ser uma profissional contratada para me deixar morto, ou quase morto. Deu-me vários tiros no rosto e a cada “ai” que articulava tão ligeiro como eram os tiros de nitrogênio, ela replicava “bicho frouxo é homem. Isso não dói nada”. Não dói! Não eram no rosto dela.

Mas o pior foi depois, há três dias que essas vinte e cinco feridas no meu rosto coçam e ardem sem parar. Sonhei com um rapa-coco. Eu rasgava meu rosto todo com esse antigo instrumento de cozinha. Deixava tudo em carne viva. Vocês não têm ideia do que estou passando. Tudo arde na face, tudo dói que nem cansanção. E ela fica “não coça, não pega”, o tempo inteiro. Meu compadre, eu não tenho o costume de dizer palavrão, mas minha vontade é de subir os degraus da Catedral e proferir os maiores impropérios, daqueles que se diz com todo juiz ladrão em estádio de futebol. BEM ALTO. Parece que me lixaram o rosto com urtiga. Tenho vontade correr e parar ao mesmo tempo. Cortei as unhas das mãos para evitar o pior, deixei só um tronquinho de nada. Conferi, não temos rapa-coco em casa. Ufa!

Estou com raiva, estou furioso, estou nervoso. Saiam todos de perto de mim. Em meio a tanto ódio, dor e sofrimento, rosto ardendo, sentindo-me febril, pressão arterial desregulada, mãos tremulas, imunidade baixa, voz embargada, ela chega pra mim e diz “você está ótimo” e eu respondo “Claro, meu amor”.