Carta a Luiz Renato
 
          Prezado amigo Luiz Renato, Faz dias que você foi a Recife, pensei até que tivesse ido à Sudene expor ideias de possíveis empreendimentos e intercâmbios no Mercado de Produção; falar sugestões  à  UFPE que, certamente, abordariam nossas comuns necessidades.  Por que estou a escrever estas linhas?  Fui pego de surpresa com a notícia da sua morte, isso me faz, na nossa intimidade, escrever carta a um morto. Aliás, bem aí ao seu lado, mostre-a ao seu pai Professor Luiz Mendes, o amigo e ex-diretor do Lyceu. Recorro aos Correios porque você viajou para não mais voltar. Passado esse impacto, comecei a relembrar as idas e vindas que fizemos juntos pelo interior do Estado, numa memorável campanha para Reitor da UFPB, quando, realmente, era pelo interior dos sete campi da Universidade Federal da Paraíba, aprendendo e ensinando suas entranhas... Falávamos, ríamos, discutíamos, criticávamos, cansávamos, mas, sobretudo sonhávamos programados e construtivos sonhos!

          Em torno desses sonhos, desses ideais, fizemos amigos e solidificamos amizades que choram sua prematura partida, por ser ela antes de realizarmos grande parte desses sonhos. Luiz Renato, amigos, que morrem como você, falecem parte das nossas vidas. Sendo assim, posso afirmar que morremos várias vezes. Ah! Já quantos amigos me fizeram morrer pedaços da vida! Sei que morrer dói mais do que nascer, preferível é viver, pois ninguém acha bom morrer.  Mas, nesse caso, ressurgem esperanças de renascer, recomeçar e continuar as obras que você deixou iniciadas para habitar numa cidade onde só há coisas perfeitas e concluídas...
 
          A grandeza maior e final da amizade é continuar os amigos falecidos, ao substituí-los nas fileiras da luta da vida. Sei que é muito difícil e doído passar pela experiência da morte, mas o que fazer se somos programados para morrer assim que nascemos? Enfim, você sempre se caracterizou como homem inteligente e dinâmico, escolhendo morrer em vida e não viver morto... Simples, sensível! Lembro-me das belas crônicas que escreveu no Jornal Correio da Paraíba; especialmente daquela em que nos contou suas conversas com um “menino de rua”. Talvez ele nem saiba que você morreu; não precisa de carta, direi pessoalmente a ele num dos estacionamentos da praia.
                                                                                                          
Post  Scriptum: Por favor, responda esta carta para aumentar minha fé na ressurreição. Aproveito palavras do poeta Olavo Bilac, ao reclamar uma tristeza: “Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia / Assim! de um sol assim!”