PALAVRAS QUE TIRAM O SONO, OU QUE FAZEM DORMIR

Sabe aquela situação em que você está caindo de sono sem ter uma cama para deitar e dormir? Está sentado numa cadeira, os olhos não conseguem ficar abertos, a cabeça cai pra frente ou rodopia, o mundo não interessa mais, o sono te puxa mas você não vai, mal cochila já acorda, como se fosse uma luz que fica acendendo e apagando. Só mesmo uma cama para resolver tal problema. Se você já passou por isso, você é como eu, que não consigo dormir sentado. Mas tem gente que consegue. Os antigos guerreiros hunos, comandados por Átila, dormiam montados em seus cavalos. Vigilantes sempre, provavelmente mantinham um olho aberto durante o sono.

Quando eu, menino ainda, ia visitar meus parentes na cidade de Ijuí, andava e corria tanto durante o dia que ao cair a noite pensava apenas em dormir para poder repetir as doses no dia seguinte. Mas não, não se dava o que eu queria. Depois do jantar, minha avó me levava até a casa da tia Adélia, distante apenas uns trinta metros, e as duas ficavam conversando, conversando, só falando em alemão. Como eu não entendia nada, ou quase nada, ficava quietinho na cadeira, os primos já na cama dormindo. Era toda noite aquela rotina, o que será que conversavam tanto? Minha avó era uma matraca para falar em alemão. Eu, já louco de sono, de vez em quando ouvia esta expressão: "na ja". Nunca ninguém me ensinou, mas eu sentia que esse "na ja" significava "pois é". Eu quase caía da cadeira, mas o tal "na ja" me chamava a atenção. A palavra "ja" quer dizer "sim" e o "na" traduz-se por "ora". Ora essa, que coisa. Até hoje me lembro da voz de minha avó e da entonação que ela dava ao "na ja", e era justamente essa entonação que me convencia que o "na ja" quer dizer "pois é". O tempo ia passando e o que eu queria mesmo era deitar e dormir. Mas que nada, a conversa seguia até perto da meia-noite. Por fim a vovó levantava, me puxava pelo braço e a gente ia embora, seguindo pelo caminho que contornava o terreno. Sentindo a brisa me animar um pouco, eu me admirava daquela língua que não entendia. Mas as poucas palavras que ficavam na minha cabeça eram o acalanto que me faziam enfim dormir em paz. E a cada dia despertava em mim o desejo de saber, saber muito, sempre mais. Pois é...

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 17/05/2013
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