CAJUÍNA

Com destino a São Paulo, mas aqui em trânsito, Catulo Ibiapina andou comigo por Brasília, revisitando-a. Por melhor que o tenha recebido não fui tão bom cicerone quanto ele o fora para comigo em terra dele. Minhas lembranças e saudades de lá se puseram à frente das minhas habilidades como anfitrião, de tal modo que ao amigo interroguei mais do que o prazer de informá-lo. Mas ele olhava tudo como que à primeira vista entre monumentos, palácios e colunas, balões e tesouras de acesso às quadras. Tudo oposto ao traçado das ruas e avenidas de Teresina, a “Verde Cap” com suas praças arborizadas e a Frei Serafim se alongando da matriz de São Benedito às margens do Rio Poti. Aqui, o lago banhando o planalto e lambendo as asas de Brasília lembrou-lhe o Parnaíba, “Velho Monge”. O “balseiro no mês de janeiro” (conforme a lenda do cabeça de cuia), quando as águas barrentas rompem o cais e deixam submersas as praias fluviais.

Com a cortesia do humano calor piauiense, Catulo trouxe-me quatro produtos típicos da terra natal: o doce de buriti, o caju, a castanha e a cajuína. Buriti é uma fruta redonda, cuja casca vermelha e escamosa protege o caroço revestido por uma massa amarela e muito saborosa, da qual, raspada e seca, faz-se o suco, o sorvete e o doce. Do caju todos sabemos; exceto que o Estado do Piauí é o seu maior produtor e que a castanha dele é também um valioso produto de exportação.

A cajuína se destaca como bebida típica, genuinamente piauiense. Uma espécie de aperitivo sem álcool, feito do suco extraído da polpa do caju. É uma delícia de que se orgulham os teresinenses pondo-lhe à prova aos visitantes. No Mercado Velho, no Centro de Artesanato, nas casas de produtos típicos do Estado encontra-se a especial bebida de cor amarela como a cachaça de alambique, mas sem álcool. Nas vezes em que estive em Teresina, comprei-a na esquina da Praça Pedro II, numa casa onde se encontram também o doce de buriti, a castanha e um queijo muito especial. Mas a cajuína é a atração maior. Bebê-la é saborear o gosto de Teresina. Essência, cor e sabor da “Verde Cap”, como carinhosamente é chamada a capital do Piauí pelos seus habitantes. Há muitas histórias envolvendo essa famosa bebida. A mais interessante tem como personagens dois grandes compositores brasileiros: Torquato Neto e Caetano Veloso. Caetano, homenageando o genial parceiro piauiense, compôs CAJUÍNA, belíssima canção entre as mais famosas do compositor baiano. E Teresina se orgulha quando ouve:

Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
De um menino infeliz não se nos ilumina
Tão pouco turva-se a lágrima nordestina
E apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
Da cajuína cristalina em Teresina

****
Valeu Catulo. Obrigado pela cajuína e até mais.
_______________
Veja e ouça a belíssima canção>
http://www.youtube.com/watch?v=nmd7Nw9KqaE

_________
Nota> Catulo convidou-me a ir novamente a Teresina, desta vez em novembro próximo, para participar de um seminário jurídico e também de um recital poético na Casa de Cultura. Estou na expectativa dessa viagem programada.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 19/05/2013
Reeditado em 20/05/2013
Código do texto: T4298591
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.