A NOVÍSSIMA DITADURA BRASILEIRA

A NOVÍSSIMA DITADURA BRASILEIRA

Jorge Linhaça

"Ditadura é a designação dos regimes não democráticos ou antidemocráticos, ou seja, governos onde não há participação popular, ou em que essa participação ocorre de maneira muito restrita. Na ditadura, o poder está em apenas uma instância, ao contrário do que acontece na democracia, onde o poder está em várias instâncias, como o legislativo, o executivo e o judiciário."

Confesso que fico perplexo com o discurso de alguns parlamentares e de boa parte da pseudo-direita em nosso país.

Acho que o analfabetismo político e de conceito instalou-se mesmo entre os ditos intelectuais.

Pode-se ter ideologias contrárias ao governo atual, pode-se não concordar com várias facetas deste governo, mas querer taxar de ditadura o que acontece no Brasil é um exercício de imaginação que sobrepuja toda a lógica e a definição de ditadura.

Não muito longe está o tempo em que vivemos sob uma ditadura militar e parece que o povo esqueceu-se do que isso significava.

Censura explicita sobre todos os meios de comunicação e formas de arte, perseguição de todos os níveis contra quem se mostrasse minimamente descontente com o regime.

Um batalhão de exilados políticos que incluíam desde antigos parlamentares até artistas.

Peças teatrais, filmes, programas de TV, jornais, revistas dilacerados em sua concepção pelas tesouras insaciáveis dos censores oficiais.

Uma caça ás bruxas que levou á morte tanto ativistas políticos quanto anônimos e educadores como Anísio Teixeira ( caiu no poço do elevador) ou jornalistas como Vladimir Herzog que conseguiu a façanha de ” enforcar-se com um cinto” sentado em uma cela de prisão.

Quem diz que vivemos numa ditadura não tem a menor noção do que diz.

Se realmente vivêssemos num regime autoritário como procuram incutir na cabeça dos menos conscientes, essas mesmas pessoas que tanto falam o que querem, muitas vezes sem provar nada, já estariam há muito tempo encarceradas em algum porão ou sepultados em alguma vala comum.

Por certo se vivêssemos realmente sob um regime totalitário , muitos desses que hoje se colocam no papel de defensores da democracia, estariam bem caladinhos ou procurando uma colocação dentro do regime como o fizeram muitos quando do Golpe Militar.

Não existe ditadura onde existe a liberdade de expressão, não existe ditadura que permita que seus aliados sejam julgados em rede nacional, não existe ditadura quando se dá o direito de qualquer minoria lutar por aquilo em que acredita.

E, por favor, não insultem nossas inteligências ao dizer que a “ditadura” em questão baseia-se na maioria esmagadora dos partidos aliados. Se formos seguir por esse caminho não existe ditadura civil maior do que aquela á qual ficamos sujeitos durante o governo FHC, quando a maioria esmagadora apoiava o governo e nenhuma investigação escapava às garras do engavetador geral da república ou do Serjão.

Entendam de uma vez por todas que não há santinhos na política ( exceto aqueles com fotos de candidatos distribuídos durante as campanhas eleitorais).

O jogo se cena , encenado diariamente ante nossos olhos é apenas uma disputa pelo poder e os que hoje fingem indignação e empatia com a população, são os mesmos que, em chegando lá esquecerão facilmente tudo aquilo que disseram hoje.

Os que hoje gritam DITADURA, deturpando todo o sentido de totalitarismo que a palavra representa, são os mesmos que, se puderem, levarão este país a um novo regime de exceção.

Não gostam do Governo atual? As eleições estão aí... Votem em outros partidos.

Mas tenhamos um mínimo de dignidade e honestidade em nossas colocações, essas mesmas qualidades que faltam à classe política como um todo e àqueles que semeiam toda a sorte de discursos deturpados, de elucubrações enganosas com o fim de disseminar o ódio e o medo entre a população.

Não existe nada mais nocivo para o espírito do homem do que o medo insano por aquilo que é diferente, seja uma ideologia, um pensamento ou uma condição social.

O medo é o pior de todos os conselheiros, incita á violência, à virulência verbal, à guerra e a destruição da sociedade. O medo insano leva à perda de todos os princípios morais do ser humano, leva à busca desenfreada pelo poder, à perda de todos os limites da sanidade da alma e da mente.

Talvez por isso tantos o considerem uma arma poderosa para desestabilizar seus adversários e para manobrar as massas para atingir seus objetivos.

Quando o poder parece escorrer por entre os dedos daqueles acostumados a exerce-lo, o medo faz-lhes parecer que tudo é lícito para mantê-lo e , na impossibilidade disso, optam pela destruição da própria sociedade, tal e qual uma criança mimada que prefere destruir um brinquedo do que compartilha-lo com outras crianças.

Salvador, 20 de maio de 2013.